Não sei porquê essa mania de conta redonda – 60.
Como todo mundo, resolvi fazer uma reflexão aos 60 e não aos 59, 58 ou 57.
Estou feliz? Não. Ninguém quer fazer 60 anos. Dá
uma sensação de que “ainda tenho tanta coisa a fazer”... Estou triste? Não. Sou
feliz, mesmo aos 60 anos. Na verdade, estou perplexa. Passou tão rápido... Não
me sinto com 60 anos.
Vejo a foto de minha avó materna, nessa idade, já
uma velhinha, cabelos totalmente brancos, roupa preta, meias de seda, sapatos
baixos e confortáveis , um camafeu no pescoço, rosto inteiramente lavado, unhas
sem esmalte... Talvez o seu andar fosse lento e a voz rouca e cansada da idade.
Que loucura!!! Definitivamente não me sinto com 60 anos de idade.
Não sei com que idade me sinto. Devo sentir-me com
alguma idade??? O fato é que ainda vejo-me um
pouco estudante, às vezes sabida, às vezes ingênua, ainda sonhadora, cheia de
planos, guerreira, lutadora, que nunca se cansa de tentar e tentar e tentar.
Ainda tenho “ataques” de filha e, se minha filha estivesse viva, nesse plano,
ainda seria aquela mãe aflita e preocupada, como se ela fosse uma criancinha.
Não me recordo de ter passado por
alguma crise de idade, dessas que todo mundo fala, “crise existencial”, “crise
da meia idade”; “crise da menopausa”... Nada disso! Simplesmente fui vivendo um dia de cada vez, sorrindo,
chorando, trabalhando, estudando, malhando, engordando e fazendo dieta,
tentando acompanhar o mundo globalizado, as novidades da informática, o
manuseio dos celulares, cada vez mais sofisticados.
Aprendi a usar o computador e a internet, e por
meio de meu blog, conheci aos 57 anos meu marido.
Com 18 anos de idade eu me imaginava aos 60,
idosa, rodeada de filhos e netos, sentada numa poltrona e contando historinhas
para as crianças. Uma vida estável, feliz e completamente acomodada e
previsível.
Nada disso aconteceu. Essa velhinha que eu
esperava ser nessa idade não existe. Divorciei-me do primeiro marido; minha
filha, que hoje estaria com 29 anos, passou para o Mundo Espiritual aos 23 e
não tenho netos. Ainda trabalho em horário integral e não penso em
aposentadoria. Ao contrário, estou sempre procurando novos desafios no
trabalho, algo novo, que me faça ter vontade de acordar e ir para a empresa.
Existem marcas no corpo e na alma. Marcas do
tempo, rugas, flacidez, cicatrizes... mas nada que se compare à marca da alma,
quando Deus solicitou a presença de minha única filha em Seu reino. Isso dói...
dói o peito, doem os olhos, dói o coração... É uma dor que não pára nunca. A dor da saudade, do
contato, da presença. Mas aprendi que agarrar-me a essa dor não vai me
beneficiar, e nem a ela. Aprendi que ser vítima dessa dor é maltratar-me, e a ela
também. O melhor é aceitarmos o que Deus reservou-nos e continuarmos nossa
existência, dia a dia, passo a passo, procurando sempre a evolução.
Esse é o grande desafio da minha vida: sentir o
amor em sua plenitude; amar sem ver, sem tocar, apenas sentindo o amor supremo
e absoluto, o amor de coração e alma.
Hoje, como espírita, tenho conhecimento desse
processo de vida após vida e compreendi, depois de muito sofrer, que a morte
não existe. A vida continua nos dois planos. “A morte é um parto, um
renascimento, é uma transição entre dois atos do destino, dos quais um
acaba, e o outro se prepara”.
Aprendi algumas coisas nessa vida, inclusive, a
desaprender muitas coisas, e tudo leva-me a querer ser feliz, curtir a travessia.
Diminuí minhas manias de perfeição e limpeza
excessivas e percebi que ninguém é perfeito, inclusive eu. Hoje eu me permito
errar, não exijo tanta perfeição de mim mesma, nem dos outros; não mantenho mais minha vida sob rígido controle. Para que
encontrar lógica em tudo? Para que medir, contabilizar? Para que sacrificar-me
ao extremo, visando algo, talvez impossível? Para que
correr e deixar tudo em ordem e perfeição? Para quem?
Aprendi que a vida é dura, mas eu sou mais que
ela. Aprendi que a felicidade está dentro de nós e não adianta procurá-la fora.
Aprendi que mais importante que chegar, é caminhar. Isso lembra-me sempre
que a preparação de uma grande festa é muito melhor que a festa em si.
Aprendi que não devemos lamentar o dia de ontem,
pois ele é passado e não mudará; somente eu posso mudar se for minha escolha.
Não devemos, também, nos preocupar com o amanhã, pois ele estará sempre lá, nos
esperando. Não podemos fazer o melhor pelo amanhã, sem primeiro fazer o melhor
hoje. Aprendi que posso mudar o que quiser. O que não puder mudar, simplesmente
deixarei passar.
Consegui assimilar os conceitos de que o passado
se foi e que o futuro ainda não chegou, permitindo-me viver plenamente (ou
quase) o presente. E finalmente, aprendi que cada dia é bênção nova, cada
minuto é oportunidade de crescimento e não devemos perder as chances de resgate
nessa vida reencarnada.
Apesar de todos os obstáculos que encontro pela
minha vida, apesar dos contratempos que me deparo, apesar das portas fechadas
que vejo, apesar das dificuldades que enfrento, ainda assim, tenho esperança...
e cada empecilho é uma oportunidade de eu testar a minha capacidade de
superação.
As adversidades existem para todo mundo e chegam
sem anunciar. Aparecem em nossa vida, nos pegam de surpresa e muitas vezes nos
deixam apáticos. Essas coisas não acontecem somente com os outros. Estamos
debaixo do mesmo céu e sujeitos às mesmas ventanias. Somos tão vulneráveis
quanto qualquer outra pessoa. Mas precisamos aprender a aceitar nossos fardos,
não como castigos, mas como lições de vida, dessas que vamos descobrindo
devagarzinho, que doem, mas que nos levam adiante.
Sou feliz? A verdade é que aprendi que felicidade
são momentos fugazes e que não há nenhum momento melhor para ser feliz do que
agora. Segundo Mário Quintana, “existe somente uma idade para a gente ser
feliz... Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se presente e tem a
duração do instante que passa.”
Apesar de tanta coisa que me aconteceu, o saldo
ainda é positivo. Ainda tenho muito que aprender... ainda tenho muito o que
viver, apesar de ter mais passado que futuro. Vou vivendo, um dia de cada vez,
na minha nova condição de mulher muito sex...agenária! Que o diga meu marido!!!