Não é da minha natureza esperar que me deem
liberdade, não espero pelo pouco que há de essencial na vida. Sendo liberdade
uma delas, eu mesmo me concedo.
Ser livre não me ensinou a amar direito, se por
direito entende-se este amor preestabelecido, mas me ensinou as sutilezas do
sentimento, que, afinal, é o que caracteriza e o torna pessoal e
irreproduzível.
Te amo muito, até quando não percebo.
O amor que sinto pode parecer estranho, e é por
isso que o reconheço como amor, pois não há amor universal: não, caríssima. Não
há um amor internacional, assim como são proclamados os cidadãos do mundo. Cada
cidadão, um coração, e em cada um deles, códigos delicados. Se não é este amor
que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo.
Te amo muito, e não sinto medo.
Bela e cega, busca em mim o que poderias encontrar
em qualquer canto, em todo corpo, homens e mulheres ao alcance de teus lábios e
dedos, romance: conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo. E se casam os
românticos, e fazem filhos e fazem cedo.
O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos
acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto tanto, inteiro, que não quero me
ocupar de outra coisa que não seja de você, de mim, do nosso segredo.
Te amo muito, e pouco penso.
Esta carta não chegará, como não chegarão ao seu
entendimento estas palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam
como desculpa de aventureiro ou até mesmo plágio, já que não há originalidade
na ideia, muito difundida, porém bastante censurada.
Serei eu o romântico, o ingênuo?
Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me
entendo, mas sinto-me livre para dizer: te amo muito, sem rendimento, aceso,
amor sem formato, altura ou peso, amor sem conceito, aceitação, impassível de
julgamento, aberto, incorreto, amor que nem sabe se é este o nome direito,
amor, mas que seja amor.
Te amo muito, e subscrevo-me.
Nenhum comentário:
Postar um comentário