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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A DOR QUE DÓI MAIS



Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido às aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

6 comentários:

Maria Adeladia disse...

MARIA JOSÉ:Que texto, amiga!Quase chorei, pois comecei a imaginar as coisas que sinto saudades!Realmente, sinto saudades de outros tempos...!Onde podia tantas coisas...!Era mais feliz, tinha mais e mais!Também sinto saudades de algumas pessoas!Poxa!Este sentimento é dolorido.Passando para desejar-lhe uma linda e iluminada noite.Bjs.

Guaraciaba Perides disse...

Eu chamaria essa saudade de paixão recolhida...algo que ficou preso na alma e ainda queima.
um abraço

Maria do Sol disse...

Dói. Muito. Tanto que chega a doer só de falar...


Beijinho

josenaide coelho disse...

Dor é dor!
Nem mais nem menos
não?
Mais lindo o
texto.
Noite de luz!!!

Rô... disse...

oi minha amiga,

eu sempre digo que não gosto de sentir saudades,
é como se meu coração estivesse doente...

beijinhos

Bell disse...

Sdd doí...

bjokas =)