Gentil galinha, cheia de instintos maternais, encontrou um ovo de
regular tamanho e espalmou as asas sobre ele, aquecendo-o carinhosamente. De
quando em quando, beijava-o, enternecida. Se saía a buscar alimento, voltava
apressada, para que lhe não faltasse o calor vitalizante.
E pensava garbosa: “Será meu pintainho! Será meu filho!”
Em formosa manhã de céu claro, notou que o filhotinho nascia,
robusto. Criou-o, com todos os cuidados.
No entanto, em dourado crepúsculo de verão, viu-o fugir pelas
águas de um lago, sobre as quais deslizava contente. Chamou-o, como louca, mas
não obteve resposta. O bichinho era um patinho arisco e fujão.
A galinha, desalentada por haver chocado um ovo que lhe não
pertencia à família, voltou muito triste, ao velho poleiro; todavia, decorrido
algum tempo e encontrando outro ovo, repetiu a experiência.
Nova criaturinha frágil veio à luz. Protegeu-a, com ternura,
dedicou-se ao filho com todas as forças, mas, em breve, reparou que não era um
pintainho qual fora, ela mesma, na infância. Tratava-se de um corvo esperto que
a deixou em doloroso abatimento, voando a pleno céu, para juntar-se aos escuros
bandos de aves iguais a ele.
A desventurada mãe sofreu muitíssimo. Entretanto, embora resolvida
a viver só, foi surpreendida, certo dia, por outro ovo, de delicada feição.
Recapitulou as esperanças maternas e chocou-o. Dentro em pouco, o filhote
surgia. A galinha afagou-o, feliz, mas, com o transcurso de algumas semanas,
observou que o filho já crescido perseguia ratos à sombra. Durante o dia, dava
mostras de perturbado e cego; no entanto, em se fazendo a treva, exibia olhos
coruscantes que a amedrontavam. Em noite mais escura, fugiu para uma torre
muito alta e não mais voltou. Era uma coruja nova, sedenta de aventuras.
A abnegada mãe chorou amargamente. Porém, encontrando outro ovo,
buscou ampará-lo. Aninhou-se, aqueceu-o e, findos trinta dias, veio à luz
corpulento filhote. A galinha ajudou-o como pôde, mas, em breve, o filho
revelou crescimento descomunal. Passou a mirá-la de alto a baixo. Fez-se
superior e desconheceu-a. Era um pavãozinho orgulhoso que chegou mesmo a
maltratá-la.
A carinhosa ave, dessa vez, desesperou-se em definitivo. Saiu do
galinheiro gritando e.se dispunha a cair nas águas de rio próximo, em sinal de
protesto contra o destino, quando grande galinha mais velha a abordou, curiosa,
a indagar dos motivos que a segregavam em tamanha dor.
A mísera respondeu, historiando o próprio caso. A irmã experiente
estampou no olhar linda expressão de complacência e considerou, cacarejando:
- Que isso, amiga? Não desespere. A obra do mundo é de Deus, nosso
Pai. Há ovos de gansos, perus, marrecos, andorinhas e até de sapos e serpentes,
tanto quanto existem nossos próprios ovos. Continue chocando e ajudando em nome
do Poder Criador; entretanto, não se prenda aos resultados do serviço que
pertencem a Ele e não a nós, mesmo porque a escada para o Céu é infinita e os
degraus são diferentes. Não podemos obrigar os outros a serem iguais a nós, mas
é possível auxiliar a todos, de acordo com as nossas possibilidades. Entendeu?
A galinha sofredora aceitou o argumento, resignou-se e voltou,
mais calma, ao grande parque avícola a que se filiava.
O caminho humano estende-se repleto de dramas iguais a este. Temos
filhos, irmãos e parentes diversos que de modo algum se afinam com as nossas
tendências e sentimentos. Trazem consigo inibições e particularidades de outras
vidas que não podemos eliminar de pronto. Estimaríamos que nos dessem
compreensão e carinho, mas permanecem imantados a outras pessoas e situações,
com as quais assumiram inadiáveis compromissos. De outras vezes, respiram
noutros climas evolutivos.
Não nos aflijamos porém. A cada criatura pertence a claridade ou a
sombra, a alegria ou tristeza do degrau em que se colocou. Amemos sem egoísmo
da posse e sem qualquer propósito de recompensa, convencidos de que Deus fará o
resto.
5 comentários:
Quanta ternura, numa bela fábula que encerra tanta sabedoria, a ser aplicada aos humanos. Linda!
Um beijo, Maria José,
da Lúcia
Um texto excelente não podemos atropelar tem coisas que só Deus pode fazer, beijo Lisette,
A missão de cada em sua simplicidade torna o todo muito mais iluminado! abraços
oi minha amiga,
com o exemplo da fábula que escolheu,
vamos aprendendo que cada um tem a sua importância pra Deus,nessa grande roda da vida...
beijinhos
Maria Jose esta fábula é parecida com a história da minha vida. Levei a vida a criar os filhos que meu marido foi arranjando por aí, àlem dos meus bilógicos hoje com doença grave é um desses meninos que está a cuidar de mim com muito amor e carinho é esta a diferença da sua história. Os meus verdadeiros se afastaram porque dá canseira cuidar de uma pessoa que está neste momento a passar por uma fase menos boa. De uns poucos um está cumprindo direitinho é o meu anjo da guarda, por isso estou grata a DEUS. Desculpa beijo.
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