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terça-feira, 14 de maio de 2013

A GALINHA AFETUOSA




Gentil galinha, cheia de instintos maternais, encontrou um ovo de regular tamanho e espalmou as asas sobre ele, aquecendo-o carinhosamente. De quando em quando, beijava-o, enternecida. Se saía a buscar alimento, voltava apressada, para que lhe não faltasse o calor vitalizante.
E pensava garbosa: “Será meu pintainho! Será meu filho!”
Em formosa manhã de céu claro, notou que o filhotinho nascia, robusto. Criou-o, com todos os cuidados.
No entanto, em dourado crepúsculo de verão, viu-o fugir pelas águas de um lago, sobre as quais deslizava contente. Chamou-o, como louca, mas não obteve resposta. O bichinho era um patinho arisco e fujão.
A galinha, desalentada por haver chocado um ovo que lhe não pertencia à família, voltou muito triste, ao velho poleiro; todavia, decorrido algum tempo e encontrando outro ovo, repetiu a experiência.
Nova criaturinha frágil veio à luz. Protegeu-a, com ternura, dedicou-se ao filho com todas as forças, mas, em breve, reparou que não era um pintainho qual fora, ela mesma, na infância. Tratava-se de um corvo esperto que a deixou em doloroso abatimento, voando a pleno céu, para juntar-se aos escuros bandos de aves iguais a ele.
A desventurada mãe sofreu muitíssimo. Entretanto, embora resolvida a viver só, foi surpreendida, certo dia, por outro ovo, de delicada feição. Recapitulou as esperanças maternas e chocou-o. Dentro em pouco, o filhote surgia. A galinha afagou-o, feliz, mas, com o transcurso de algumas semanas, observou que o filho já crescido perseguia ratos à sombra. Durante o dia, dava mostras de perturbado e cego; no entanto, em se fazendo a treva, exibia olhos coruscantes que a amedrontavam. Em noite mais escura, fugiu para uma torre muito alta e não mais voltou. Era uma coruja nova, sedenta de aventuras.
A abnegada mãe chorou amargamente. Porém, encontrando outro ovo, buscou ampará-lo. Aninhou-se, aqueceu-o e, findos trinta dias, veio à luz corpulento filhote. A galinha ajudou-o como pôde, mas, em breve, o filho revelou crescimento descomunal. Passou a mirá-la de alto a baixo. Fez-se superior e desconheceu-a. Era um pavãozinho orgulhoso que chegou mesmo a maltratá-la.
A carinhosa ave, dessa vez, desesperou-se em definitivo. Saiu do galinheiro gritando e.se dispunha a cair nas águas de rio próximo, em sinal de protesto contra o destino, quando grande galinha mais velha a abordou, curiosa, a indagar dos motivos que a segregavam em tamanha dor.
A mísera respondeu, historiando o próprio caso. A irmã experiente estampou no olhar linda expressão de complacência e considerou, cacarejando:
- Que isso, amiga? Não desespere. A obra do mundo é de Deus, nosso Pai. Há ovos de gansos, perus, marrecos, andorinhas e até de sapos e serpentes, tanto quanto existem nossos próprios ovos. Continue chocando e ajudando em nome do Poder Criador; entretanto, não se prenda aos resultados do serviço que pertencem a Ele e não a nós, mesmo porque a escada para o Céu é infinita e os degraus são diferentes. Não podemos obrigar os outros a serem iguais a nós, mas é possível auxiliar a todos, de acordo com as nossas possibilidades. Entendeu?
A galinha sofredora aceitou o argumento, resignou-se e voltou, mais calma, ao grande parque avícola a que se filiava.
O caminho humano estende-se repleto de dramas iguais a este. Temos filhos, irmãos e parentes diversos que de modo algum se afinam com as nossas tendências e sentimentos. Trazem consigo inibições e particularidades de outras vidas que não podemos eliminar de pronto. Estimaríamos que nos dessem compreensão e carinho, mas permanecem imantados a outras pessoas e situações, com as quais assumiram inadiáveis compromissos. De outras vezes, respiram noutros climas evolutivos.
Não nos aflijamos porém. A cada criatura pertence a claridade ou a sombra, a alegria ou tristeza do degrau em que se colocou. Amemos sem egoísmo da posse e sem qualquer propósito de recompensa, convencidos de que Deus fará o resto.

5 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Quanta ternura, numa bela fábula que encerra tanta sabedoria, a ser aplicada aos humanos. Linda!

Um beijo, Maria José,
da Lúcia

ONG ALERTA disse...

Um texto excelente não podemos atropelar tem coisas que só Deus pode fazer, beijo Lisette,

Ives disse...

A missão de cada em sua simplicidade torna o todo muito mais iluminado! abraços

Rô... disse...

oi minha amiga,

com o exemplo da fábula que escolheu,
vamos aprendendo que cada um tem a sua importância pra Deus,nessa grande roda da vida...

beijinhos

Anônimo disse...

Maria Jose esta fábula é parecida com a história da minha vida. Levei a vida a criar os filhos que meu marido foi arranjando por aí, àlem dos meus bilógicos hoje com doença grave é um desses meninos que está a cuidar de mim com muito amor e carinho é esta a diferença da sua história. Os meus verdadeiros se afastaram porque dá canseira cuidar de uma pessoa que está neste momento a passar por uma fase menos boa. De uns poucos um está cumprindo direitinho é o meu anjo da guarda, por isso estou grata a DEUS. Desculpa beijo.