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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

EDUCAR PARA A VIDA, EDUCAR O OLHAR


O que significa ‘educar para a vida’? O que significa ‘educar o olhar’?
“Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.” (Rubem Alves)
O jornal Folha de São Paulo publicou o depoimento de um jovem pai, que, aflito, dizia: “A minha filha pediu um laptop da Xuxa. Ela só tem três anos e fala direitinho ‘Laptop’. Acho que ela nem sabe o que é, mas viu na TV e quer de qualquer jeito.” O pai afirma que já percorreu duas lojas à procura do ‘laptop da Xuxa’, mas que estavam com o estoque esgotado. Prossegue, dizendo que irá se dirigir, apesar da forte chuva, ao shopping, pois a felicidade de sua filha depende do tal laptop. Nada mais irá satisfazê-la, e não se contentará com um laptop de brinquedo similar,– quer unicamente o ‘laptop da Xuxa’.
Apenas três anos de idade, e a marca do desejo já foi inscrita em sua subjetividade.
Enquanto as crianças assistem a desenhos e programas infantis, a educação para o consumo vai se instalando de forma poderosa no seu subconsciente.
Como muitos pais passam longas jornadas fora de casa, e desconhecem o que os filhos veem na televisão, vamos fazer uma breve descrição do comercial do brinquedo em questão.
O comercial inicia-se com Xuxa e duas meninas sentadas ao redor de uma mesa com cadernos e lápis de colorir. Xuxa diz que vai mostrar para as duas meninas algo muito mais legal e divertido. Nesta hora, entram em cena os efeitos especiais, e uma esteira colorida leva as três até o Céu. E no Céu está o tal laptop. A esteira converte-se num gigantesco tobogã, pelo qual elas descem escorregando felizes. (reflita sobre como uma criança pequena processará tais fantasiosos efeitos visuais) E no fim do comercial, Xuxa apresenta os vários modelos e cores para se colecionar.
Trinta segundos se mostram suficientes para convencer a criança pequenina de que a felicidade reside no adquirir o produto anunciado. A esteira que conduz ao Céu.O incontido sorriso de Xuxa e das duas crianças figurantes, que mal cabem em si.
Ter = Ser Feliz
O desejo de posse e o consumismo impostos a mentes indefesas, ainda na mais tenra idade. A pedagogia do consumo, – o aproveitar da imaturidade natural de uma criança pequena para convertê-la num consumidor precoce.
Gerações e gerações de crianças desenvolveram a criatividade e o gosto pela arte por meio de cadernos e lápis de colorir. E um comercial de 30 segundos consegue fazer com que a criança enxergue tal atividade como coisa do passado, e passe a almejar o objeto anunciado.
“Lápis e cadernos de colorir, que coisa mais sem graça...”  “Diversão de verdade é o meu laptop!”
A publicidade infantil se torna ainda mais cruel, desumana e desalmada quando recordamos que as crianças das famílias mais carentes encontram-se igualmente expostas à sua invasiva, massiva, desregulamentada e abusiva veiculação.
Nos países desenvolvidos, onde a Infância e a Educação são priorizadas, cuidadas e protegidas, existem leis regulamentando e restringindo a publicidade infantil.
Nos Estados Unidos e na Europa, apresentadores de atrações infantis são proibidos por lei de ter sua imagem associada a qualquer produto comercial.
Crianças pequenas tendem a acreditar que os adultos sempre falam a verdade. Portanto, se um adulto lhes diz que necessitam de tal coisa para serem felizes, elas aceitarão tal afirmação sem ressalvas.
Ademais, uma apresentadora de programa infantil, como a Xuxa, estabelece um forte vínculo afetivo e emocional com a criança, devido às longas horas que passa com ela diariamente. Portanto, em função de tal ligação emocional, a criança pequena recebe a mensagem publicitária que a apresentadora transmite quase que como uma ordem, e ela não quer decepcionar ou trair tal vínculo afetivo.
A criança pequenina não tem a menor capacidade intelectual de compreender que por trás do comercial existem empresários, publicitários, diretores televisivos e seus milionários lucros comerciais.
Para a criança pequena, o que há é apenas a Xuxa, que ela considera uma amiga, dizendo para ela que a felicidade reside no possuir tal laptop.
Algum dia, quiçá não tão distante, a exemplo dos países desenvolvidos, nossas leis também irão proibir apresentadores de programas infantis de anunciarem marcas e produtos, dentre outras medidas. Algum dia, quiçá não tão distante, a exemplo de muitos países desenvolvidos, nós também iremos educar as nossas crianças para que sejam primeiramente cidadãos, e não meros consumidores precoces.
Fôssemos nós também um país desenvolvido, priorizando a Infância e a Educação, a apresentadora, os diretores televisivos, os publicitários e todos os demais envolvidos na criação e veiculação de um comercial como o do ‘Laptop da Xuxa’ estariam respondendo criminalmente, sujeitos a duras penas.
O que se pode esperar de uma sociedade na qual interesses comerciais se sobrepõem aos cuidados básicos com a Infância? Que podem fazer os pais para proteger seus filhos nestes dias desleais que vivenciamos?
Vejamos alguns conselhos de educadores e especialistas em Educação: Em ambientes com a presença de crianças menores de quatro anos, mantenha os aparelhos de TV desligados. Lembre-se de que a atenção periférica nas crianças pequenas é bastante apurada, mais até do que nos adultos. Enquanto brincam inocentemente num canto da sala, elas vão assimilando e absorvendo tudo que acontece ao seu redor. Os olhos e os ouvidos das crianças pequenas são sensíveis demais para a futilidade das novelas, as coberturas sensacionalistas dos dramas e tragédias humanas dos telejornais, e a incessante torrente apelativa, abusiva e invasiva de propagandas e comerciais.
Caso, devido à corrida rotina da vida moderna, você tenha que recorrer ao babá-eletrônico para distrair crianças pequenas, dê preferência a vídeos e dvds. Como nesta fase a criança sente prazer na repetição, sendo ela parte do processo de aprendizagem, adquira alguns dvds infantis para manter em casa. Desenhos são lúdicos e, vistos moderadamente, estimulam a fantasia e a criatividade. Recorrendo ao dvd, você poderá preservar seus filhos pequenos da tirania publicitária das emissoras de TV.
Recomenda-se que somente após completar quatro anos de idade a criança venha a ter contato com programas televisivos. E, mesmo assim, não mais do que por 45 minutos diários,
inicialmente com a presença de um adulto, a orientá-la diante do caráter persuasivo dos comerciais.
90% do nosso aprendizado acontece entre 0–6 anos de idade, considerada a fase em que temos maior capacidade de aprendizado.
A primeira infância representa um período crucial na formação do caráter, e no estabelecimento de valores e princípios que nortearão os anos vindouros.
“Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.”(Rubem Alves)
Educadores orientam que aparelhos de TV e computadores não devem ficar no quarto das crianças, mas em salas comuns, onde os pais possam acompanhar o seu uso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Siempre hay que prestar atención y cuidado a los más pequeños de la casa en aspectos relacionados con las nuevas tecnologías.
Um abraço.

She disse...

Muito bom o seu post, minha querida, eu acho que cada vez mais é difícil dizer não aos filhos, principalmente se tratando de consumo, mas ouvir não na hora certa tem resultado para uma vida inteira, não é mesmo?! Minha linda, aproveito e já te desejo um 2013 com muita saúde, amor e realizações! :)
Beijo, beijo!
She

Diogo Didier disse...



“Não se preocupem com a comida e a bebida para viver e nem com a roupa que precisam para se vestir. Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante que as roupas? Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, nosso PAI, que está no céu, dá de comer a cada um. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos? E nenhum de vocês pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades.” Mateus 6.25 - 27 e 34

FELIZ 2013