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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ONDE ENCONTRAR DEUS?


No abismo misterioso e fecundo, um punhado de poeira cósmica. E em meio a esta silenciosa imensidão, um ponto azul.
Uma pequenina esfera suspensa na imensidão escura do Universo.
Sonhos, amores e esperanças.
De tão pequenas coisas depende, como se sabe, a felicidade das pessoas.
E dentre toda a imensidão do espaço, a fina camada que recobre este ponto azul perdido na imensidão fez-se lar e abrigo para a vida, como a conhecemos. O nosso lar comum. Abrigo para uma tão rica variedade de formas de vida. A infinita diversidade de plantas, flores e frutos, animais, pássaros e peixes que compõem os elos da cadeia da vida.
E com o surgimento do ser humano, a evolução deu um salto extraordinário.
A característica peculiar da consciência e do livre arbítrio.
A abertura para as dimensões do mistério que permeia a criação.
A grandeza do mar, e a formosura das estrelas.
A estrela cadente e o seu trajeto luminoso.
O espanto diante de um universo vivo a pulsar.
Num tempo remoto, ao dirigir o olhar para o céu, os nossos longínquos antepassados perguntavam-se: “Quem é que sustenta, e se esconde por trás daquelas estrelas?”
As primeiras reflexões diante da beleza da Natureza, conduzindo à grandeza divina, infinitamente maior do que aquela do cosmos.
Os primeiros altares erguidos, pedras dispostas umas por sobre as outras.
O calor da esperança.
Os homens a caminhar sobre a face da terra, feito elos a unir o céu e a terra.
Um arranjo de pedras brutas que viu passar décadas, séculos e milênios.
Quantas gerações invocaram o Mistério nestas vastas colinas.
A brisa que passa, e que testemunha as cidades que vão sendo erguidas.
Os tempos passam, mas o encanto e o espanto diante do Mistério continuam os mesmos.
E enquanto imersos na passagem do tempo, aqueles que nutrem a sede de transcendência se fazem uma pergunta que acompanha o homem desde o início dos tempos: “Como podemos nos aproximar de Deus?”
Variadas são as respostas para esta pergunta.
Há os que afirmam que nos aproximamos de Deus por meio da oração. Em estado de oração, nos desligamos do mundo e nos acercamos do nosso Criador.
Há quem afirme que para encontrar Deus é preciso frequentar igrejas, mesquitas, templos ou sinagogas. Espaços e lugares de visitação respeitosa e reflexão silenciosa. Sagrados recintos onde se faz mais presente a presença do Criador.
Há quem sustente que nos aproximamos de Deus por meio da meditação e da contemplação. Um lugar calmo e tranquilo, de preferência um retiro longe do meio urbano, e em contato com a Natureza.
Há quem diga que se faz necessário acender velas e incensos. Banhar-se nas infinitas possibilidades da Luz. Deixar arderem em chamas todas as nossas impurezas.
Há quem sustente que para nos aproximarmos de Deus se faz preciso viajar. Visitar Jerusalém, Belém, Meca, Medina, Tibete, Santiago de Compostela. Percorrer os caminhos outrora trilhados por Jesus, Mohammad, Moisés, Buda e Abraão.
E há quem afirme que nos aproximamos de Deus por meio do estudo das Escrituras. Ensinamentos perenes que atravessam séculos, milênios e eras.
Tais respostas para a pergunta ‘Onde encontrar Deus?’ são todas legítimas e verdadeiras. A oração, a meditação, a interiorização, uma vida simples e comedida são alternativas válidas.
No entanto, a pergunta fundamental que devemos fazer não é ‘Onde podemos encontrar Deus?’, mas ‘Onde Deus quer ser encontrado por nós?’
“Deus é Amor” nos ensinam as Escrituras.
No fundo, o Amor é uma única realidade, embora possua distintas feições.
E é na Compaixão que se revela a sua face mais bela.
No Amor, na Caridade e na Compaixão reside o encontro – a aproximação verdadeira.
O ‘Rei Antigo’ identifica-Se de tal modo com os necessitados – famintos, enfermos, sedentos, nus, estrangeiros, encarcerados –, a ponto de afirmar: “Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos pequeninos, a Mim mesmoo fizestes.” (Mt 25,40)
Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo, de modo que no mais pequenino repousa o sagrado encontro com o nosso Criador.
Deus marcou o encontro onde nos parece mais contraditório: no oprimido, no sedento, no faminto e no nu.
Naqueles que não contam para os critérios dominantes da sociedade.
Naqueles que o sistema considera nulos, pois aos olhos do mercado praticamente nada produzem, e quase nada consomem.
Ele os chama de “Meus irmãos e Minhas irmãs menores” e diz: “Quem os recebe a Mim recebe, quem os rejeita a Mim rejeita”.
Na cidade grande, a menina ainda pequenina sob o viaduto perambula.
O barulho dos carros. O silêncio do céu. E a fragilidade inerente de toda infância. A precoce seriedade em seu olhar. Preocupações que em sua terna idade não deveria ombrear. Pequenina ave no ninho do abandono. Conseguirá algum dia voar?
É nos olhos que a alma transparece, escreveu certa vez um poeta.
Que histórias terá para nos contar o seu olhar, a sua alma?
Como ela se chamará?
Qual a data do teu aniversário?
Qual a tua brincadeira favorita?
Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo, de modo que junto ao mais pequenino, aproximamo-nos do nosso Criador. O Sagrado Encontro.
Como banhar de significado e sentido os nossos breves dias?
Na hora derradeira, o nosso destino final dependerá do grau de nossa comunhão mais íntima com o Deus da ternura dos humildes, o Deus do direito, dos injustiçados. O Deus do órfão, e daqueles que padecem.
Onde se agride a vida, agride-se a Deus.
Onde se abandona a vida, abandona-se a Deus.
Buscar a Luz, nestes tempos em que a escuridão se faz tão presente.
Reservar um espaço em nosso dia-a-dia para nos conectarmos com o Transcendente.
Deixar que Deus acampe em nossa subjetividade.
Ter ouvidos para a Voz que se faz ouvir no meio do Silêncio.
Aprender a fechar os olhos para ver melhor.
Recordar que Deus se anuncia sempre, que há reverência pela vida, participação, dignidade, alegria, liberdade, criatividade.
Cultivar flores no canteiro da alma.
Regar os jardins do espírito com a água pura da Compaixão e da Caridade.
Procurar vivenciar a experiência do “amar ao próximo como a si mesmo” em toda a sua plenitude.
Os mistérios da caminhada terrena, e as latentes potencialidades espirituais.
Ter olhos para o Invisível.
Sentir a Presença que permeia todas as horas, e todos os lugares.
Procurar fazer o possível, recordando que a base da perfeição é a Caridade.
Guardar no coração as seguintes palavras do Amigo e Mestre incomparável, que conduzem à verdadeira felicidade: “Felizes são aqueles que levam consigo
uma parte das dores do mundo. Durante a longa caminhada, eles saberão mais coisas sobre a felicidade do que aqueles que a evitam.” (Jesus Cristo)
Na vida espiritual quanto mais se corre menos se cansa.
“Avança, pois contas com Nossa ajuda”, ensinam todas as sagradas tradições.
Existem mundos dentro do mundo.
Existem diferentes formas de amar.
“Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.” (Jesus Cristo)

Baseado no texto “Onde encontrar Deus?”, do teólogo Leonardo Boff, publicado no livro “A Força da Ternura”.

Um comentário:

Antonio Carlos disse...

Paz,querida irmã Maria José!
Leonardo Boff foi feliz nessa colocação de que "...com o surgimento do ser humano a evolução deu um salto extraordinário", realmente com a criação do homem Deus revelou todo o ser amor por nós.
Quem dera todos nos conscientizassemos de que para vivermos nesse espaço que o Senhor Deus nos reservou, bastaria seguirmos o conselho de Jesus: que nos amassemos uns aos outros e nem precisaria ser como Ele nos amou,isso seria pedir demais, pois somente Ele teve um amor tão grande ao ponto de entregar sua própria vida por cada um de nós. Bastaria que amassemos os nossos semelhantes assim como amamos a nós mesmos, pois como disse o apóstolo Paulo em Efésios 5:29 "Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja;".
Se assim procedermos certamente o mundo será muito melhor.
Que o Senhor continue te abençoando grandemente.
Sempre juntos em Jesus.
Antonio Carlos