Perceber a beleza que se esconde nas frestas do mundo imperfeito é uma
Arte. Você conhece aquela história de que os tapetes persas sempre tem um
pequeno erro, um minúsculo defeito, apenas para lembrar a quem olha de que só
Deus é perfeito? Pois é, a Arte da Imperfeição começa quando a gente reconhece
e aceita nossa tola condição humana.
Precisamos aprender a aceitar nossas falhas com a mesma graça e
humildade com que aceitamos nossas qualidades, a perdoar a nós mesmos. O desejo
de acertar sempre impede a evolução e a necessidade de estar no controle
aumenta a desordem e o caos.
Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a
beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que
intraduzível: wabi sabi é um jeito de "ver" as coisas através de uma
ótica de simplicidade,naturalidade e aceitação da realidade.
Contam que o conceito surgiu no século 15. Um jovem, Rikyu, queria
aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá e procurou o grande mestre
Takeno Joo. Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o jardim.
Rikyu limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do lugar.
Ao terminar, examinou cuidadosamente o jardim impecável, cada
centímetro de areia imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as
plantas ajeitadas. E então, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu
chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se
espalharam displicentes pelo chão.
Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu
tornou-se um grande Mestre do Chá e desde então é reverenciado como aquele que
entendeu a essência do conceito de wabi-sabi: a arte da imperfeição.
Os mestres japoneses, com a cultura inspirada nos ensinamentos do
taoísmo e do zen budismo perceberam que a ação humana sobre o mundo deve ser
tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar. E a
natureza das coisas é percorrer seu ciclo de nascimento, deslumbramento e
morte; efêmeras e frágeis.
Eles perceberam a beleza e elegância que existe em tudo que é tocado
pelo carinho do tempo. Uma velha tigela
de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada, uma única rosa
solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que a tocaram...
Wabi sabi é inseparável dos ensinamentos do taoísmo e do zen-budismo:
Na natureza:
Todas as coisas são impermanentes.
Todas as coisas são imperfeitas.
Todas as coisas são incompletas.
A beleza pode estar escondida na feiura.
A grandeza existe nos detalhes despercebidos.
Aceitação do inevitável.
Apreciação da ordem cósmica.
A Arte da Imperfeição é focar no intrínseco, no irregular, no
despretensioso, no turvo, no envelhecido, na simplicidade...
Que tal abrir os olhos para o estilo wabi sabi?
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