Eu não sei se a terra se
acomodou com tantas catástrofes ou se as pessoas acabam se acostumando com as
tragédias. Prefiro pensar que não. Prefiro pensar que os corações não se
endurecem, não tornam-se insensíveis e indiferentes.
O que aconteceu no Haiti
essa semana moveu o mundo inteiro. De repente os países e as populações
uniram-se num bloco de solidariedade para tentar salvar o que se podia da
situação. Grandes gestos, grandes feitos, grandes homens...
Mas por que é preciso uma
tragédia para que o mundo acorde para ajudar um dos países mais pobres do
mundo? Antes do terremoto a miséria já assolava o local, os tetos já caíam
sobre as cabeças e as pessoas já não tinham o que comer.
Assim somos nós nesse
mundo que Deus criou. Nos acomodamos a tudo e passamos a olhar com indiferença
e muitas vezes é preciso que algo extraordinário aconteça para que sejamos
sacudidos e possamos acordar.
Nos comportamos dessa
maneira em relação ao mundo e aos nossos. Quem ainda não percebeu que as
lágrimas aproximam muito mais as pessoas que as alegrias? Os abraços de
consolação são mais demorados e mais sinceros que os de felicitações, como se a
dor tivesse o poder de soldar o que estava quebrado, unir o que estava separado.
Talvez seja essa a razão
das grandes tragédias que acontecem. Talvez precisemos desses alertas para que
possamos olhar nossa casa e o mundo de forma diferente, mais humana.
Eu queria que não fosse
preciso uma doença, uma má notícia, uma desilusão para que as pessoas
despertassem para a vida. Queria um mundo maravilhoso onde ouvir fosse natural,
a gentileza fosse natural, o perdão fosse dado antes que o outro pedisse, onde
compartilhar fizesse parte da rotina diária de cada um.
Se assim fosse, haveria menos
famílias separadas, menos fome, menos solidão, menos peso nos ombros de certas
pessoas e menos infelicidade.
O mundo é o que é e não
podemos voltar atrás. Mas nada nos impede de olhar para a frente, de abrir os
olhos, os braços e o coração. Nada nos impede de dar as mãos, reparar erros,
erguer a cabeça e continuar a acreditar que amanhã pode ser diferente de hoje e
que, por mínima que ela seja, nossa contribuição pode ser dada.
Quem pensa que não possui
nada e nada pode dar está muito enganado. Damos muito quando oferecemos nossas
orações e iluminamos os caminhos quando distribuímos a esperança.
Quando ajudamos o nosso
próximo, não deixamos pegadas apenas na sua história, deixamos também marcas no
coração de Deus.
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