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domingo, 23 de agosto de 2015

OLHAI OS LÍRIOS DOS CAMPOS



Dar um tempo na vida é tentar colocar a mesma em pausa. É quando nos encontramos numa  encruzilhada e, de repente, não sabemos qual caminho seguir.  É o medo de tomar decisões erradas que nos faz pensar que o melhor seria adiar pra ver depois no que pode dar.
Só que a vida não é um filme que podemos parar um instante pra ir buscar um café e depois voltar e recomeçar de onde paramos. A vida é bem mais séria, bem mais exigente. Ela pede que tomemos decisões; errar é um risco que todos correm. Quem pode afirmar, com cem por cento de certeza, que a decisão que toma é a certa, que tudo vai correr exatamente como se passa dentro da sua cabeça?
O dia de amanhã não conhecemos. E é bem melhor assim. Imagino quanto sofrimento por antecipação haveria no mundo se soubéssemos com certeza absoluta o que vai acontecer. O conhecimento do futuro estragaria nosso presente.
Em 1991 eu tive um caroço no seio. Foi horrível! Descobri à noite e até a manhã seguinte eu não pude dormir. A hipótese de que aquilo era uma coisa benigna e banal nem passou pela minha cabeça. Pensamentos negativos me assombraram a noite toda. Na manhã seguinte, fui ver o meu médico, um clínico geral. Ele examinou e me encaminhou para um especialista. No hospital, marcaram uma consulta para dezoito dias depois. Deus do céu! Dezoito dias depois! E como eu iria viver todos esses dias? Talvez hoje, mais amadurecida, eu pudesse me repousar e me dizer de esperar, ter fé. Mas não naquela época. Milhões de coisas se passaram pela minha cabeça. Eu já me via morta, me perguntava como minha família iria reagir. E filhos? Deus, eu nem tinha tido ainda tempo de ter filhos e já iria partir! Não, eu não poderia esperar ainda dezoito dias para fazer a famosa mamografia. Liguei novamente para o meu médico, que se comunicou com o hospital e eles marcaram o tal exame para o dia seguinte.
Mais uma noite sem dormir e lá estava eu, pronta para os exames. Já no primeiro, o médico disse que parecia algo banal, mas que para ter certeza eles fariam uma biopsia. O tal exame era desagradável. Enquanto faziam uma ultrassonografia do seio, eles enfiaram uma agulha grossa para a retirada do material. Eu olhava atentivamente para o rosto do médico, acho que procurava nele uma expressão qualquer de preocupação. Ele parecia tranquilo, fiquei tranquila também. Ele me explicou que era provavelmente um fibroma, tumor benigno. Estavam fazendo o exame por segurança, mas que eu não deveria me preocupar. Disse que por causa do tamanho talvez fosse melhor retirá-lo, mas que aguardaríamos ainda uns seis meses e refaríamos um exame. Se o caroço estivesse crescendo, teriam que removê-lo por segurança, para que não riscasse de afetar os tecidos laterais.
O resultado chegou e era mesmo o que ele tinha dito. Me tranquilizei. Nem pensei nisso até o próximo exame. Mas no seguinte eu já estava grávida e não poderia fazer a mamografia. Fizemos então um simples exame de ultrassonografia e a senhora que fez já disse imediatamente quando viu que era um fibroma. Ele parecia estável.
Dois anos depois eu já havia aprendido a conviver com aquilo dentro de mim. Sentia um pouco de medo, mas não me apavorava. Minha primeira filha tinha nascido e eu tinha muito o que aprender da vida para tentar ensinar pra ela.
Quando resolvi fazer a mamografia de controle seguinte, fiquei grávida da segunda e não pude. E depois que ela nasceu eu fui. O caroço tinha desaparecido, ninguém sabe como. Ele era grande, tinha alguns centímetros e não estava mais lá, em lugar nenhum. Me lembro que meu médico riu quando eu disse que «il est allé se promener», ele tinha ido passear.
Essa foi uma das minhas experiências. Aprendi que não vale a pena a gente se preocupar com coisas que talvez nunca acontecerão. Eu sei que é bem mais fácil falar que agir, mas é um fato e acho que devemos nos exercitar a colocá-lo em prática.
Agora eu estou passando por um período de divórcio e as coisas não têm sido fáceis. Quando minhas amigas vêm a força com a qual eu encaro a situação ficam surpresas. Dizem que sou corajosa. Corajosa, eu ? Isso me surpreende. Não, não sou corajosa. Deus cuida de mim, é o que digo sempre.

Um comentário:

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Maria José
Que Deus abençoe seu novo caminhar... coragem e foco!!! A fé nos guia...
Bjm fraterno