Marília contraiu febre amarela. Rosely contraiu
estafilococo. Milton contraiu varíola. E Lizete, coitada, contraiu matrimônio.
Um amigo solteiro me perguntou esses dias: é
doença? Bem, não está catalogado como tal, mas há aspectos em comum.
Primeiramente, casamento é contagioso. Os pais vão
acostumando seus filhos com a ideia e são capazes até mesmo de estimular seu
surgimento, como fazem em relação ao sarampo e à catapora: "melhor pegar
de uma vez pra ficar livre". Então, entre os 25 e 35 anos, homens e mulheres
vão se aproximando, se tocando, se lambendo e se arriscando a encontrar o par
ideal para com ele contrair a coisa.
Casamento também leva todo mundo pra cama,
invariavelmente. No começo dá calafrios, suores, palpitação, taquicardia, mas
depois as pessoas vão se acostumando com os sintomas e eles desaparecem. O
enfermo começa a ter menos paciência para ficar deitado. Começa a frequentar
mais o sofá, a poltrona e nem se dá o trabalho de tirar o pijama e vestir algum
troço decente. Cama passa a ser um lugar apenas para dormir.
O automedicamento é desaconselhado. É prudente ter
o nome de um psiquiatra de confiança anotado na caderneta de telefones.
Casamento pode ser fatal. Ao menos era, tempos
atrás. As pessoas não tinham muita informação e a doença matava mesmo: matava a
paixão, matava o sexo, matava a paciência, uma desgraça. O matrimônio, que é o
nome científico dessa enfermidade, podia levar anos pra dar cabo do casal, mas
os menos debilitados conseguiam resistir bastante tempo, às vezes até 50 anos,
amparados pela fé. Hoje há cura. O remédio chama-se divórcio. Custa uma fortuna
e não impede que haja reincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário