Pergunta: Amado Osho, como eu posso me
livrar do sofrimento?
Osho: "Todo mundo passa a sua
vida em busca de uma coisa: como livrar-se do sofrimento? Como obter felicidade
e alegria? Você quer buscar alegria, mas o que você pagará por isso? O que você
dará em troca daquilo que conseguiu? Se um homem der um passo que seja, ele
terá que deixar o pedaço da terra sobre o qual ele estava em pé. Somente assim
ele poderá ir adiante. Não haverá qualquer progresso neste mundo se nós não
quisermos abrir mão de alguma coisa. Sem sacrificar-se você não conseguirá dar
nem mesmo um passo. Se as suas mãos estão cheias de lama, de seixos e de pedras
e você quer diamantes, você terá que abandonar as pedras. Para agarrar o objeto
desejado, as suas mãos deverão estar vazias. Você deverá deixar as coisas
inúteis. Não tenha medo: eu não lhe direi para renunciar à sua riqueza, mesmo
porque ninguém tem riqueza alguma, ninguém mesmo. Neste mundo, até o mais rico
dos homens é um mendigo. Ninguém tem riqueza. Existem dois tipos de mendigos:
um é o mendigo pobre e o outro é o mendigo rico, mas ambos são mendigos. Até
agora, eu nunca vi um homem rico. Existem muitas pessoas que possuem dinheiro,
mas elas não são ricas, elas também estão na corrida para agarrar o máximo que
elas puderem, do mesmo jeito como faz o mais pobre dentre os homens pobres.
Como um pedinte que segura tudo o que tiver com as mãos bem apertadas, também o
homem que tem o maior dos cofres segura com as mãos apertadas tudo o que ele
tiver. A avareza deles é a mesma e assim a pobreza deles também é a mesma. Você
não tem riqueza. Ninguém a tem. Por isso eu não insisto que você tenha que
abandoná-la. Como você pode deixar alguma coisa que você não tem? Eu não lhe
digo para desistir da sua vida - você nem mesmo tem isso. Como você pode ter
alguma coisa, se nem mesmo tem consciência dela? E a cada momento você fica
tremendo de medo da morte. Se você fosse a própria vida, por que você estaria
com medo da morte? A vida não tem morte alguma. Como a vida pode tornar-se
morte? Mas você está tremendo de medo da morte. A cada momento a morte está
rondando você. Você está tentando se salvar por qualquer caminho possível, para
que você não desapareça, para que você não morra, para que você não chegue a um
fim. Mesmo a vida, você não a tem. É por isso que eu não irei lhe pedir para
desistir da sua vida. Como você pode dar alguma coisa que você não tem? Eu só
irei pedir aquilo que você tiver. E eu irei pedir aquilo que todos têm. Assim
como eu disse que a busca de todo mundo é por alegria, também existe algo que
todos têm em abundância: o sofrimento. Você tem uma quantidade suficiente de
sofrimento, mais do que você precisa. Por muitas vidas você nada mais tem
colecionado a não ser sofrimentos. Você colecionou pilhas disso. Mesmo o monte
Everest parecerá pequeno se for comparado com as pilhas de problemas que você
tem colecionado. Esse é o trabalho de suas muitas vidas; você nada tem ganho,
exceto problemas. Mesmo agora você os está ganhando. Eu gostaria que você
largasse seus problemas, renunciasse aos seus problemas. Ninguém jamais pediu
os seus problemas, mas eu estou pedindo. E se você puder desistir de seus
problemas, aí o caminho para a alegria poderá ser aberto. E se você conseguir
abandonar os seus problemas, você irá perceber que aquilo que você pensava ser
problema nada mais era que ilusão. E os seus problemas não o estavam segurando;
você é que os estava segurando. Mas uma vez que você os deixe ir, você irá
saber então quem estava segurando quem. Você está sempre perguntando como
conseguir livrar-se do sofrimento. Perguntando assim, parece que o sofrimento o
está segurando e você quer livrar-se dele. Se o sofrimento estivesse lhe
segurando, então não seria possível você se livrar dele, porque a posse não
estaria em suas mãos, mas nas mãos do sofrimento. Você seria impotente. E se
depois de tantas vidas você ainda não conseguiu tornar-se livre, então como
conseguir tornar-se livre agora? Eu digo a você que o sofrimento não o está
segurando; você é que está segurando o sofrimento. E se você puder fazer uns
experimentos, aceitando o que eu estou dizendo, você irá compreender por si
mesmo. E não apenas você compreenderá isso, mas você irá experienciar uma
entrega; você saberá como o sofrimento pode ser abandonado. E quando tornar-se
bom na arte de abandonar o sofrimento, você irá perceber o que estava
arrastando consigo. E ninguém, a não ser você, era responsável por isso. Por
qualquer coisa que você tenha experienciado como sofrimento, nenhuma outra
pessoa pode ser responsabilizada. Esse era o seu desejo: você queria sofrer.
Tudo o que nós desejarmos será permitido. E tudo o que você é, é o fruto dos
seus desejos. Nem Deus é responsável, nem a sorte; ninguém tem motivo algum
para lhe causar problemas. A verdade é que a existência está sempre querendo fazer
você ficar alegre. Toda essa existência quer que a sua vida se torne um
festival... porque quando você está infeliz, você também sai atirando
infelicidade por toda a sua volta. Quando você está infeliz, o mau cheiro de
suas feridas alcança toda a existência. E quando você está infeliz, a
existência também sente dor. Todo esse mundo sente dor quando você está infeliz
e sente alegria quando você está alegre. A existência não deseja que você deva
ser infeliz. Isso seria suicídio para a própria existência. Mas você está
infeliz e para se tornar infeliz você teve que fazer toda sorte de arranjos. E
enquanto isso não for destruído, você não será capaz de abrir os seus olhos
para a felicidade. Quais são os seus arranjos? Que arranjo o homem faz para
estocar os seus problemas? Como ele os coleciona? Compreenda isso um pouco e
talvez fique mais fácil para você soltá-los. Uma criancinha quer chorar. Os
psicólogos dizem que a ação de chorar da criança é como o ato de vomitar.
Sempre que uma tensão cresce dentro de uma criança, ela, ao chorar, atira para
fora as suas tensões. Você foi uma criancinha. Uma criancinha está com fome e
não estão lhe dando o leite na hora certa. É por isso que ela está chorando, é
porque ela encheu-se de tensão. E isso é necessário para liberar a sua tensão
para fora. Ela irá chorar, a tensão será liberada e ela se sentirá mais leve.
Mas nós ensinamos a criança a não chorar. Nós tentamos todas as maneiras para
impedi-la de chorar. Nós colocamos brinquedos em suas mãos para que ela se
esqueça; nós colocamos alguma coisa artificial em sua boca, ou colocamos o seu
polegar em sua boca de modo que ela confunda isso com o seio de sua mãe e
esqueça da fome. Nós começamos a balançá-la para lá e para cá a fim de que sua
atenção se disperse e ela não chore. Nós tentamos tudo para não deixá-la
chorar. Aquela tensão que poderia ter sido liberada pelo choro, não é liberada
e vai sendo guardada. Desse jeito nós deixamos que isso vá se acumulando. Quem
sabe quantas dores e angústias cada pessoa tem acumulado? Ela senta-se sobre
essa coleção empilhada. Quem sabe quantas tensões você acumulou? Você não tem
chorado nem dado gargalhadas com seu coração totalmente presente. E porque você
não chorou, alguma coisa ficou presa dentro de você. Você não tem ficado totalmente
com raiva, nem tem perdoado completamente alguém. Você tornou-se uma pessoa
pela metade. Os seus ramos querem se abrir mas eles não são capazes disto. As
folhas querem brotar para todos os lados, mas elas não são capazes disto. A sua
árvore ficou atrofiada. O nome dessa dor acumulada, dessa dor não liberada, é
inferno. E você segue arrastando esse inferno ao seu redor. Eu o chamei aqui
para que o seu inferno possa ser jogado fora, e você pode jogá-lo fora. (...)
Eu estou aqui para aqueles que são capazes de tornarem-se simples como uma
criança, e somente assim eu posso fazer alguma coisa. Porque somente às
crianças pode-se ensinar alguma coisa, somente as crianças podem ser mudadas, e
uma revolução pode ocorrer apenas nas vidas das crianças. Nos experimentos de
meditação que acontecerão aqui, vomite, atire para fora todo sofrimento que
você tiver em seu coração. Se você tiver raiva, atire-a para o céu, se você
tiver violência, atire-a para o céu. Você não tem que ser violento com ninguém,
simplesmente libere a violência para o céu aberto. Problemas, dores, culpas;
qualquer coisa que estiver dentro tem que ser jogada para fora. Você tem que
atirá-las tão totalmente quanto for possível. Use toda a sua energia de modo
que qualquer problema que estiver dentro seja trazido à consciência. Você deve
compreender que enquanto você não ficar consciente da dor escondida no seu
inconsciente, ela não o deixará, ela permanecerá escondida. Exponha-a, traga-a
para a consciência. Puxe-a para fora, onde quer que ela esteja escondida na
escuridão interna, traga-a para a luz. Algumas coisas morrem com a luz. Se você
puxar para fora da terra as raízes de uma árvore, elas morrerão. Elas
necessitam da escuridão, elas vivem na escuridão, na escuridão está a vida
delas. Assim como as raízes, o sofrimento também vive na escuridão. Exponha os
seus sofrimentos e você descobrirá que eles morreram. Se você continuar
escondendo-os dentro de si, eles irão permanecer seus companheiros constantes
por muitas vidas. A infelicidade tem que ser expressada.Compreenda uma coisa
mais: foi de fora que você pegou as dores e as trouxe para dentro de si. Por
favor, volte com elas para o lado de fora. A dor não é interna; todas as dores
são trazidas do lado de fora. Quando você nasceu, qual era a natureza do seu
ser? Não havia dor: a dor foi trazida de fora. Se um homem o maltratou e fez
você ficar infeliz, o maltrato foi trazido de fora. Agora, você irá acumular
essa dor do lado de dentro, deixará que ela cresça, irá reprimi-la, assim ela
se expandirá e envenenará toda e qualquer célula do seu corpo. Você se tornará
um homem infeliz. Você traz a dor de fora. Ela não está em sua natureza. É por
isso que eu lhe digo que você pode livrar-se da dor. Você não consegue se
livrar da natureza, daquilo que é a fonte do sentir. Você pode livrar-se apenas
daquilo que não é seu. Não há jeito de você livrar-se daquilo que é seu. A dor
tem que ser jogada fora. Durante esses próximos dias, quanto mais você puder
jogar, jogue. E na medida em que você for jogando fora, irá crescer a sua
compreensão que isso era uma loucura estranha que você estava cultivando. Isso
poderia ter sido jogado fora naturalmente, estava em suas mãos, mas,
desnecessariamente, você se bloqueou. E a segunda coisa: na medida que você
joga fora a dor, que a envia de volta para fora, de onde ela veio, a alegria
começa a brotar dentro de você. A alegria está dentro. Ninguém a traz de fora.
Ela não vem de fora, ela é a sua natureza, ela é você. Ela está escondida
dentro, ela é a sua alma. Se for jogado fora esse lixo que veio de fora e que
tem sido acumulado, então a alma interna começará a expandir, começará a
crescer. Você começa a ver a sua luz e a ouvir a sua dança, você começa a
mergulhar na música mais interna. Mas isso só acontece se você liberar o lixo
de modo que o céu interior possa se estabelecer, algum espaço criado. Então
aquele espaço que está escondido dentro pode expandir-se. A dor deve ser
expressada para que aquela alegria possa expandir-se internamente. E quando a
alegria começa a expandir-se, é necessário compreender também a segunda coisa.
Se você reprimir a dor, ela cresce. Se a dor é reprimida ela cresce, se você a
expressar, ela diminui. Com a alegria ocorre totalmente o oposto: se você
reprimir a alegria, ela diminui; se você a expressar ela aumenta. Assim, a
primeira coisa é isso: que você tem que jogar fora a dor, porque ela diminui
sendo expressada. Não a reprima, pois ela cresce com a repressão. E quando você
tiver a primeira visão da alegria que vem de dentro, então expresse-a... porque
quanto mais você expressar a alegria, mais ela aumenta internamente e camadas
frescas começam a crescer. Isso é exatamente igual a quando você fica tirando
água de um poço: nova água de fontes frescas encherá o poço. A fonte da alegria
está dentro, assim não tenha medo de que ela irá diminuir por você expressá-la.
A dor fica reduzida ao expressá-la, porque a sua fonte não está dentro. Ela foi
trazida de fora, assim se você a expressar, ela ficará reduzida. Se você quiser
enganchar-se na dor, então tenha isso em sua mente: nunca jogue-a fora. Se você
quiser aumentar o seu sofrimento - e isso é o que você está fazendo e parece
que muitas pessoas estão fazendo - então nunca expresse seu sofrimento, nunca
manifeste-o. Se lágrimas estiverem jorrando, então engula-as, se você sentir
raiva, reprima isso. Se qualquer problema estiver brotando internamente,
reprima isso. Ele irá aumentar. Você se tornará um grande inferno. Se você
quiser reduzir a dor, então deixe-a acontecer; se você quiser aumentar a
alegria, então deixe-a acontecer, porque a alegria está dentro e novas camadas
continuarão se revelando. E na medida em que você segue deixando a alegria
acontecer, você começará a ter mais e mais vislumbres de pura alegria. A
alegria aumenta ao ser compartilhada. A dor tem que ser liberada. E quando você
começa a ter vislumbres de alegria, eles também têm que ser liberados. Você tem
que se tornar como uma criancinha, que não tem qualquer preocupação a respeito
do passado, nem qualquer questão a respeito do futuro, que nem mesmo sabe o que
os outros estão pensando a seu respeito. Somente então acontecerá aquilo para o
que eu o chamei aqui, e aquela jornada na qual eu gostaria que você fosse bem
suavemente. Um pouco de coragem é requerida, e então, os tesouros de alegria
não estarão longe. Um pouco de coragem é requerida e você poderá abandonar o
seu inferno - exatamente como alguém que se suja na rua e volta para casa para
tomar um banho e a sujeira é lavada. Da mesma maneira, a meditação é o banho e
a dor é a sujeira. Assim como depois do banho a sujeira foi lavada e você se
sente fresco, da mesma forma você terá um vislumbre, sentindo dentro de si a
felicidade e alegria que é a sua natureza."
Um comentário:
Maria José foi muito bom ler esse texto do Osho, que entendia muito da alma humana. Talvez essa seja a razão, que sempre gostei, de por pra fora o que me incomodava. Não gosto de guardar o que não é meu, só adoeci porque me calei. Agora, estou bem e gosto muito de ler suas postagens, estão indo sempre de encontro ao que preciso, muito obrigada, abraços carinhosos
Maria Teresa
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