Arroz, feijão, bife, ovo. Isso nós temos no prato,
é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar. Nossa
meta primeira é a sobrevivência do corpo. Mas como anda a dieta da alma?
Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me
revirando por dentro. Uma fome que me deixou melancólica. Me dei conta de que
estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma
abstinência de viajar que me deixou até meio tonta. Minha geladeira,
afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas
me senti desnutrida. Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar?
Revista, jornal, internet, isso tudo nos informa,
nos situa no mundo, mas não sacia. A informação entra dentro da casa da gente
em doses cavalares e nos encontra passivos, a gente apenas seleciona o que nos
interessa e despreza o resto, e nem levantamos da cadeira neste processo. Para
alimentar a alma, é obrigatório sair de casa. Sair à caça. Perseguir.
Se não há silêncio a sua volta, cace o silêncio
onde ele se esconde, pegue uma estradinha de terra batida, visite um sítio, uma
cachoeira, ou vá para a beira da praia, o litoral é bonito nesta época, tem uma
luz diferente, o mar parece maior, há menos gente.
Cace o afeto, procure quem você gosta de verdade,
tire férias de rancores e mágoas, abrace forte, sorria, permita que lhe cacem também.
Cace a liberdade que anda tão rara, liberdade de
pensamento, de atitudes, vá ao encontro de tudo que não tem regras, patrulha,
horários. Cace o amanhã, o novo, o que ainda não foi contaminado por críticas,
modismos, conceitos, vá atrás do que é surpreendente, o que se expande na sua
frente, o que lhe provoca prazer de olhar, sentir, sorver. Entre numa galeria
de arte. Vá assistir a um filme de um diretor que não conhece. Olhe para sua
cidade com olhos de estrangeiro, como se você fosse um turista. Abra portas. E
páginas.
Arroz, feijão, bife, ovo. Isso me mantém de pé, mas
não acaba com meu cansaço diante de uma vida que, se eu me descuido, torna-se
repetitiva, monótona, entediante. Mas nada de descuido. Vou me entupir de
calorias na alma. Há fartas sugestões no cardápio. Quero engordar no lugar
certo. O ritmo dos dias é tão intenso que às vezes a gente esquece de se
alimentar direito.
Um comentário:
Que texto maravilhoso da Martha Medeiros, agradeço pela oportunidade de conhece-lo. Estou em fase engordativa da alma, só o que me faz bem e em excesso ... não faço dieta...
Obrigada Maria José, abraços carinhosos
Maria Teresa
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