Toda pessoa apaixonada é um publicitário em
potencial. Não anuncia cigarros, hidratantes ou máquinas de lavar, mas anuncia
seu amor, como se vivê-lo em segredo diminuísse sua intensidade.
O hábito começa na escola. O caderno abarrotado de
regras gramaticais, fórmulas matemáticas e lições de geografia, e lá, na última
página, centenas de corações desenhados com caneta vermelha. Parece aula de
ciências, mas é introdução à publicidade. Em breve se estará desenhando
corações em árvores, escrevendo atrás da porta do banheiro e grafitando a
parede do corredor: Suzana ama João.
A partir de uma certa idade, a veia publicitária
vai tornando-se mais discreta. Já não anunciamos nossa paixão em muros e bancos
de jardim. Dispensa-se a mídia de massa e parte-se para o telemarketing.
Contamos por telefone mesmo, para um público selecionado, as últimas notícias
da nossa vida afetiva. Mas alguns não resistem em seguir propagando com alarde
o seu amor. Colocam anúncios de verdade no jornal, geralmente nos
classificados: Kika, te amo. Beto, volta pra mim. Everaldo, não me deixe por
essa loira de farmácia. Joana, foi bom pra você também?
O grau máximo de profissionalismo é atingido quando
o apaixonado manda colocar sua mensagem num outdoor em frente a casa da pessoa
amada. O recado é para ela, mas a cidade inteira fica sabendo que alguém está
tentando recuperar seu amor. Em grau menor de assiduidade, há casos em que
apaixonados mandam despejar de um helicóptero pétalas de rosas no endereço do
namorado, ou gastam uma fortuna para que a fumaça de um avião desenhe as
iniciais do casal no céu. A criatividade dos amantes é infinita.
O amor é uma coisa íntima, mas todos nós temos a
necessidade de torná-lo público. É a nossa vitória contra a solidão. Assim como
as torcidas de futebol comemoram seus títulos com buzinaços, foguetório e
cantorias, queremos também alardear nossa conquista pessoal, dividir a alegria
de ter alguém que faz nosso coração bater mais forte. É por isso que, mesmo não
sendo adepta do estardalhaço, me consterno por aqueles que amam escondido, amam
em silêncio, amam clandestinamente. Mesmo que funcione como fetiche, priva o
prazer de ter um amor compartilhado.
4 comentários:
Minha doce amiga quanto tempo.....vim matar as saudades.....beijocas mil.
oi minha amiga,
gosto muito dos textos da Martha,
estou com saudades...
beijinhos
M.J.
"O AMOR é uma coisa íntima. Mas todos nós temos o dever de torná-lo PÚBLICO".
Porisso NUNCA escondí o meu, por você.
Bjs. Roy Lacerda.
Nem todo mundo gosta de receber essas loucuras de amor em publico, eu acho constrangedor.
Eu não sou fã de surpresas não rs...
bjokas =)
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