Durante uma vida a gente é capaz de sentir de tudo,
são inúmeras as sensações que nos invadem, e delas a arte igualmente já se
serviu com fartura. Paixão, saudades, culpa, dor-de-cotovelo, remorso,
excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada uma destas alegrias e
tristezas, não há muita novidade, já vivenciamos um pouco de cada coisa, e o
que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de filmes, novelas,
letras de música.
Há um sentimento, no entanto, que não aparece
muito, não protagoniza cenas de cinema nem vira versos com frequência, e quando
a gente sente na própria pele, é como se fosse uma visita incômoda. De
humilhação que falo.
Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir
humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos
reduz, nos coloca no nosso devido lugar - que lugar é este que não permite
movimento, travessia?. Geralmente são opressões hierárquicas: patrão-empregado,
professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia, mas não engolimos a soberba
alheia, e este tipo de humilhação só não causa maior estrago porque sabemos que
ele é fruto da arrogância, e os arrogantes nada mais são do que pessoas com
complexo de inferioridade. Humilham para não se sentirem humilhados.
Mas e quando a humilhação não é fruto da
hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: o desconhecimento sobre
nós mesmos? Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar
amigos de quem já amamos e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos
nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro.
Motivos nobres, mas os resultados são vexatórios.
Nesses casos, não houve maldade, ninguém pretendeu
nos desdenhar. Estivemos apenas enfrentando o desconhecido: nós mesmos, nossas
fraquezas, nossas emoções mais escondidas, aquelas que julgávamos superadas,
para sempre adormecidas, mas que de vez em quando acordam para, impiedosas, nos
colocar em nosso devido lugar.
4 comentários:
Maria José: lindo texto gostei de ler. Parabéns a autora e a ti por ter partilhado.
Beijos
Santa Cruz
Sempre iluminados textos! abraços
Perfeito! Muitas vezes não entendemos quando nossa autoestima se encontra lá no fundo do poço. Buscamos as causas no exterior de nós mesmos, nos acontecimentos e nos que nos rodeiam, quando ela está do lado de dentro. Precisamos encontrar a chave certa para abrirmos a porta. Obrigada por partilhar seu conhecimento. Ótima reflexão. bjs. Um bom dia.
oi minha amiga,
uma auto análise muitas vezes nos faz descobrir maravilhas...
e conhecimentos profundos de nós mesmos e do que nos rodeia...
beijinhos
saudades
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