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segunda-feira, 31 de março de 2014

TENHO CONSCIÊNCIA



Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende!

domingo, 30 de março de 2014

O AMOR



Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.

sábado, 29 de março de 2014

AFINIDADE



A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.  E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo para o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar, a um não afim sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

sexta-feira, 28 de março de 2014

ABRAÇO


Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.

quinta-feira, 27 de março de 2014

MENOPAUSA




É mais ou menos assim: um dia você acorda quadrada, ou talvez, ballonnée, ou pior, com jeito de matrona! A menopausa não é colega - ouvi de uma mulher numa sala de espera de dermatologista. Estávamos as duas com os rostos inchados e chamuscados por lasers e peelings, folheando perversas revistas de moda e frivolidades, onde todos são jovens e felizes, depositando míseras gotículas de esperança nos raios que nos partem daqueles aparelhos de última geração. Balancei a cabeça como uma vaca no matadouro e, sem pestanejar, movida pela absoluta cumplicidade daquele instante, falei para a minha colega: A menopausa é uma filha da mãe, isso sim! Caímos na maior gargalhada e assim ela se tornou a minha primeira amiga de menopausa.
A menopausa é um sequestro. Uma versão, só para mulheres, de praga bíblica. Inferno astral que antecede a terceira idade. É tragicômica, portanto, para encarar, só rindo. Um dia você está no meio da sua normalidade, é arrancada de tudo que você tem como referência física de si mesma e é lançada a uma espécie de funilaria às avessas. A libido diminui na mesma proporção em que aumenta a irritabilidade. Você não só não pensa tanto, nem gosta tanto, nem se importa tanto mais com sexo, como para compensar vira uma criatura instável, pavio curto, sem paciência para nada, capaz de discutir com poste, de deprimir à toa, ter crise de choro com anúncio de seguradora e ataques de ansiedade ao ler o jornal. Enfim, você vira uma pessoa bem complicada, ou melhor, complexa. E, até então, você achava que TPM era o pior que podia acontecer...
Os sintomas aparecem inadvertidamente, como assaltantes, em maior ou menor intensidade, bizarros e infalíveis. Lá estão eles: ressecamento - escolha onde e você terá; celulite - a pele de pêssego é substituída pela casca de laranja; flacidez - e a triste irrevogabilidade da lei da gravidade; manchas senis - essas pelo menos trazem o consolo dos muitos verões bem vividos; insônia - e com ela balanços complicados da vida; calores - esses são um requinte de crueldade, tão desprovidos de sentido que nos fazem refletir sobre a transcendência da agonia dos ovos cozidos; esquecimentos - sua memória vira uma espécie de vácuo e você passa por constrangimentos inenarráveis como aquela frase típica: "sabe aquele filme, daquele diretor, com aquela atriz, como é mesmo o nome?"; ossos de papel - e o perigo de tombos ridículos resultarem em cirurgias espetaculares onde pinos e próteses são implantados sem cerimônia; cabelos ralinhos de palha de milho - a sua trança de potranca virou um tererê; cintura - convexa ou quase inexistente com direito àqueles dois afundadinhos nas costas, como se você fosse feita de massinha de modelar; olhar - embaçado por uma nata azulada (catarata, não!!!) toldado por pálpebras fofas, generosas - e você começa a achar que tem ascendência mongol; juntas sacanas - com data de validade vencida e, como se não bastasse, a lembrança recente, acachapante, perturbadora e descompassada de como você era antes da menopausa. Você era jovem ontem! Que dó, que desperdício!
Esse é o ponto crucial: o estranhamento entre o que vemos e a nossa imagem interna. Não se trata de negação da velhice, da morte. Não. É bem mais simples e raso: você simplesmente não gosta do que vê! Trata-se de uma incapacidade temporária para sobrepor imagens, aceitar limitações, apurar um outro olhar.
Você ainda não tem parâmetros para entender em que você está se transformando. Você resiste bravamente. Convoca uma legião de especialistas, as forças do Bem, o exército da salvação. Faz reposição hormonal, contrata um personal, dá uma passada na sex shop, engole quilos de soja, linhaça e suco de cramberry, toma antidepressivo, Omega 3, aplica botox, faz drenagem linfática, vai ao plástico, ao dermatologista, ao ortomolecular, à nutricionista, ao psicanalista, ao astrólogo, à fisioterapeuta e ouve o seu ginecologista como se ele fosse o oráculo de Delfos. Seus modelos e referências estão no passado e a menopausa - trombeta apocalíptica - anuncia um futuro onde você vai ter de mostrar que aprendeu as lições, mereceu cada ruga e está pronta para mais trinta anos.
A menopausa é uma puberdade invertida. E, como tal, é também casulo, travessia, transformação. Divisor de águas, experiência de deserto, freio de arrumação, faxina. Teste crucial de espírito esportivo, capacidade de adaptação e instinto de sobrevivência. Passa. Demora, mas passa, e você sobrevive, como sobreviveu à pororoca hormonal da adolescência; você há de superar o declínio daqueles mesmos hormônios e seus asseclas que um dia já te enlouqueceram. (Esqueceu que você sobreviveu, com muito menos recursos, às cólicas, às espinhas, aos pelos encravados, aos ovários policísticos, à vergonha do próprio corpo, à oscilação de humor e à melancolia dos anos tenebrosos da adolescência?)
E aí, passada a tempestade, vem a bonança, a libertação. Você estará livre de ter que ser bonita, magra, eficiente, querida, desejável, vencedora, fértil, competitiva, invejada, elegante, gostosa, informada, culta, legal, conectada, tudo ao mesmo tempo. Ufa!!! Depois dos achaques, perrengues e mudanças, a menopausa inaugura a maturidade: a síntese da mulher que você construiu ao longo dos anos, fases e etapas, a essência que fica, depois que os papéis de jovem fêmea produtiva estão cumpridos.
Seu rosto é a cara da sua vida. Sua bagagem é tão grande que dá para jogar fora um monte de supérfluos e pesos mortos. Seu tempo é só seu e você não precisa provar mais nada para ninguém. Seu maior desafio é ter-se tornado uma boa companhia para si mesma. Você reformula premissas, um estar no mundo mais relaxado, uma maior complacência com suas imperfeições, dificuldades e vícios. Você já não quer mudar o mundo, você quer compreendê-lo; você já não precisa agradar às pessoas, você quer viver em paz e ser respeitada. Não há mais pressa; a vida vira um bom vinho a ser apreciado, com generosidade e prazer.
A menopausa é um tremendo rito de passagem. Talvez o último antes da definitiva passagem. Inevitável e necessário. Coisa de gente grande. O relógio biológico é inclemente, imparcial e, portanto, justo. Haja coragem e bom humor! Não há negociação possível, apenas a vida seguindo seu curso.
Então, que venham os ciclos, todos. Com seus sustos, sombras e transformações. Com suas libertações, rearranjos e alegrias. Que venham os dias, as horas, as marés, as auroras, todas.