Páginas

sábado, 27 de junho de 2009

A LIÇÃO DO VÔO DA AIR FRANCE


É difícil em uma tragédia como esta, o vôo 447 da Air France, onde 228 pessoas morreram, não nos solidarizarmos com os parentes e amigos das vítimas. Há uma forte energia de compaixão por eles, e não de dó.
A grande diferença entre dó e compaixão é um simples posicionamento: quando sentimos dó de alguém é porque nós nos colocamos num patamar acima dele; quando sentimos compaixão estamos todos no mesmo degrau.
Mas o que podemos extrair de útil desta tragédia para as nossas vidas e dos parentes que ficaram? Quantas pessoas entraram naquele avião sem se despedir de parentes e amigos? Quantos entraram brigados com pai, mãe, irmão ou qualquer ente querido? Quem deixou de dizer para seu familiar ou amigo que o amava e sentiu vergonha? Quantos deixaram para resolver algum conflito que tinham quando retornassem? Quantos estavam fazendo planos para o futuro? Quantos estavam fazendo tantas coisas...
Na Índia assisti à palestra de um “mestre” que dizia que a maior mentira que contamos para nós mesmos é que não somos em essência Deus. Eu respeito a verdade dele, mas acredito em outra mentira maior que contamos a nós mesmos, todos os dias: que nunca iremos morrer. Seguimos a nossa rotina como se a morte não existisse, como se apenas as outras pessoas morressem. Acredito que deveríamos agir da maneira totalmente contrária: vivermos como se fôssemos morrer no próximo segundo.
O Budismo fala muito sobre este tema, a morte, o que para algumas pessoas o consideram mórbido. Mas muito sabiamente eles falam sobre a morte para que você reflita sobre a sua vida, pois a única certeza que temos é que iremos morrer. Isso é motivo de muita alegria sabermos que ainda temos a oportunidade de, neste momento, realizarmos os nossos desejos, expressarmos nossas emoções, dizermos o quanto o outro é importante para nós, o quanto amamos, o quanto nos magoamos, tudo que nós tivermos vontade de fazer. Não deixarmos que a vergonha, medo e o receio do que os outros vão pensar interfira na nossa decisão de viver a vida enquanto podemos. É uma frase muito mal percebida e dita de maneira banal, mas corresponde a uma verdade: só temos o agora.
Sei que isso não é fácil para mim nem para você, mas é uma semente que temos que regar todos os dias. Este pode ser meu último artigo, por que não?
Paz e muita luz na vida dos familiares.

2 comentários:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Transcrevermos as palavras do Profº Waldo Lima de Valle, retiradas do seu livro, Morrer e Depois!: mortes coletivas são provações muito dolorosas para os que ficam e também para os que partem, mas integram programas redentores do Espírito endividado perante a Lei e condição para que possam usufruir, merecidamente, as glórias da Vida Eterna (...) a dor coletiva corrige falhas mútuas, dos que partem e, também, dos que ficam”.
Essas ocorrências, chamadas catastróficas, que ocorrem em grupos de pessoas, em famílias inteiras, em toda uma cidade ou até em uma nação, não são determinismo de Deus, por ter infringido Suas Leis, o que tornaria assim, em fatalismo. Não. Na realidade são determinismos assumidos na espiritualidade, pelos próprios Espíritos, antes de reencarnar, com o propósito de resgatar velhos débitos e conquistar uma maior ascensão espiritual. O Espírito André Luiz, no livro Ação e Reação, afirma esses fatos: “nós mesmos é que criamos o carma e este gera o determinismo”.
São ações praticadas no pretérito longínquo, muito graves, e por várias encarnações vamos adiando a expiação necessária e imprescindível para retirada dessa carga do Espírito, com o fim de galgar vôos mais altos. Assim, chega o momento para muitos, por não haver mais condições de protelar tal decisão, e terão que colocar a termo a etapa final da redenção pretendida perante as Leis Divinas. Dessa complexidade de fatos é que geram as chamadas mortes coletivas.
Mesmo que o desencarne coletivo ocorra identicamente para todos, a situação dos traumas e do despertar dependerá, individualmente, da evolução de cada um. Estes fatos, mais uma vez André Luiz confirma: “se os desastres são os mesmos para todos, a morte é diferente para cada um”.

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Um artigo da Revista Exame- Carpe Diem, intitulado A VIDA TRANSCENDE NOVOS IDEAIS diz o seguinte sobre o assunto:
Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.
Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias, nem contentamentos, nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje. O amanhã não existe!