Há no coração de cada um de nós, por essência, uma
música que é somente nossa, inigualável, intransferível. Por várias razões,
conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir,
gradativamente, o seu volume e inventar ruídos que nada tem a ver com ela para
nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros. Até que chega um tempo em que
desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e, porque não
passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é raro esquecermos
completamente que ela existe. Mas, como toda ignorância, toda indiferença, toda
confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa partitura impressa
na alma, ela continua tocando, ainda que de forma imperceptível. Continua
tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela primeira vez, possamos
aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la. Continua tocando, e
alguns são capazes de escutá-la mesmo quando não conseguimos
Todo encontro genuíno de amor é também o encontro
de duas pessoas que conseguem ouvir a música uma da outra e sentir alegria e
descanso com aquilo que ouvem. Conseguem ouvir, não importa quantos ruídos
tenham inventado pelo caminho para se proteger da dor afastando a vida.
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