Só quem está disposto a perder tem o direito de
ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o
gosto da verdade, seja ela qual for.
O que está sempre por trás dos nossos dramas,
desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou
alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento.
A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir
impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que
está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou
peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber
levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há
que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial.
A solução de toda situação de impasse só se dá
quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar
não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite
perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E
muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais
atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre
difícil de aceitar.
Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a
elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros
encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue
as vitórias legítimas.
Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia,
não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato
(renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver).
Viver é renunciar porque viver é optar e optar é
renunciar.
Renunciar à onipotência e às hipóteses de
felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se
descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as
renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do
necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.
Eis a felicidade possível: compreender que
construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao
sonho da felicidade.
2 comentários:
Oi, Maria José...é isso...viver é optar e construir o possível, mas seguir o coração.
Um abraço
Gosto essa citação da Clarice Lispector:
"Alguns dizem que a vida é para quem sabe viver, mas ninguém já nasce pronto. A vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar e humilde o bastante para aprender"
Acho que é isso....
Boa semana....
bJS
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