E no meio dessa confusão alguém partiu sem se
despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez
tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de
carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois
adere a qualquer cordão. É melhor pensar que a última vez que se encontraram se
curtiram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não
se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem
humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza,
e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem
saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um
inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um
recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas
não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz
sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que
importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa
noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros
verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as
paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não
havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois
bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um
telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada.
Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio
torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a
pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de
cigarra perdido numa tarde de domingo.
4 comentários:
E depois do adeus...porque sim é necessário por vezes dizer adeus...mas concordo o que foi vivido de bom não tem de ser apagado por isso ...permanece intacto...e deve ser preservado na memória como na altura foi e não já manchado pelo que depois se passou...cada momento é único e tem a sua verdade...!
Beijinhos
Maria
oi minha amiga,
muito triste qualquer despedida,mas com certeza o que é importante e verdadeiro permanece para sempre dentro do nosso coração...
beijinhos
oi Ma
prefiro a despedida e viver o luto do adeus, do que o sumiço sem explicação.
As coisas boas a gente guarda da memória se acabou é pq encerrou um ciclo,ou renascerá.
Nem todo mundo que a gente ama vai permanecer do nosso lado, o pq disto eu não sei, mas a vida é feita de escolhas e temos que respeitar as escolhas de quem a gente ama.
bjokas =)
O adeus, é sempre muito triste, ainda que não seja o último. O ser humano é social por excelência, necessita companhia.
Gostei muito do texto. Bjs
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