Quando penso em crianças do terceiro milênio, as
vejo ainda maturadas num ventre de mulher, apesar das novas possibilidades com
que o futuro nos acena [...]
As maneiras através das quais essas crianças
aprenderão a ler e escrever não tem, para mim, importância maior. Que seja num
caderno ou num computador, diante de uma mesa ou graças a um sofisticado
equipamento de pulso, o que eu vejo são seres em crescimento abrindo os olhos
maravilhados sobre o saber.
O universo socioeconômico de uma criança amazônica
criada à beira do Rio Negro, que em dia de festa come pato em vez de galinha,
porque galinhas não nadam e há muito mais água do que terra ao redor das casas
dos Igarapés é bem diferente daquele de uma criança de São Paulo, levada no
inverno, duas vezes por mês ao médico para fazer nebulizações capazes de
minimizar em seus pulmões o efeito da poluição. Essas diferenças existem hoje e
existirão ainda que de outras formas, no terceiro milênio.
Mas hoje como amanhã, as duas crianças terão medo
do escuro [...]
As crianças do terceiro milênio, quando penso
nelas, são frágeis e bonitas. O que vestem se linho ou plástico, não me interessa.
Me interessa que possam ser de todas as cores, louras e morenas, de olhos
puxados ou lábios grossos, de cabelos escorridos ou pixaim, e que assim possam
viver, multirraciais, no mesmo bairro.
Confesso que me enternece a ideia de que, pelo
menos no início dessa nova era ainda haverá avós que ensinarão suas netas a
costurar roupinhas de boneca. Mas tenho certeza de que mesmo que no futuro
venhamos a nos alimentar somente de pílulas, haverá crianças fazendo pílulas de
barro ou de cola sintética para brincar de comida de mentirinha, assim como
brincaram as crianças da Roma clássica ou as do antigo Egito. E isso não porque
a brincadeira de comidinha seja uma tradição transmitida de geração em geração,
mas porque através da mimese se faz o aprendizado e a primeira tarefa de todas
as crianças em qualquer tempo e em qualquer lugar, é, e sempre será, aprender a
viver.
4 comentários:
A vida e mesmo muito magica.
Um texto lindo.
Bjs querida!
Tão verdade! Os medos, as brincadeiras para crescerem. O cai e levanta haverá sempre em todo e qualquer lugar, em qualquer tempo, no mundo das crianças.
Beijinhos
oi minha amiga,
o espírito de criança deve permanecer sempre em nossos corações,
eu adoro...
beijinhos
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