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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“EU”



Ao fim de uma entrevista, a entrevistadora me pediu: “Rubem Alves em uma frase...”.
O pensamento voou até que parou num verso de Robert Frost que seria o seu epitáfio: “Ele teve um caso de amor com a vida...”.
Nos quarenta anos em que peregrinou pelo deserto, o povo de Israel, segundo conta a estória, foi alimentado por um alimento que caía dos céus durante a noite.
As pessoas tinham permissão para colher desse alimento, o maná, na medida de suas necessidades.
Só para o dia. Alguns, com medo de que o maná não caísse no dia seguinte, colheram em dobro, por via das dúvidas... Mas, quando foram comer o maná poupado, viram que ele estava apodrecido, cheio de bichos.
Talvez isso queira dizer que a vida há de ser colhida diariamente.
Quem deseja economizar o hoje para o amanhã fica com a vida apodrecida nas mãos.
Meus sonhos? Sonho em ter tempo para curtir as montanhas e cachoeiras das Minas Gerais. Sonho em ter tempo para vagabundear. Sonho em ter tempo para brincar com minhas netas.
O que tenho sentido?
Beleza. Nostalgia. Tristeza. Cansaço. Urgência. A curteza do tempo. Um enorme desejo de passar uns tempos num mosteiro, longe de cartas, telefones, micros, viagens, e e-mails, curtindo a solidão e a ausência de obrigações.
Quanto maior a beleza, maior também a tristeza. A beleza em solidão é sempre triste. Beleza solitária dá vontade de chorar. Para ser boa, a beleza, exige, pelo menos, dois pares de olhos tranquilos se olhando, dois pares de mãos amigas brincando, e bocas de voz mansa sussurrando.
Cada momento de alegria, cada instante efêmero de beleza, cada minuto de amor, são razões suficientes para uma vida inteira.
A beleza de um único momento vale a pena de todos os sofrimentos.
A alma é uma cigarra.
Há na vida um momento em que uma voz nos diz que chegou a hora de uma grande metamorfose; é preciso abandonar o que sempre fomos para nos tornarmos outra coisa: “Cigarra! Morre e transforma-te! Saia da escuridão da terra. Voa pelo espaço vazio!”.
Se eu morrer agora não terei do que me queixar. A vida foi muito generosa comigo.
Claro, sentirei muita tristeza, porque a vida é bela, a despeito de todas as suas lutas e desencantos.
O que tenho pensado? Penso tanta coisa que não é possível dizer o que tenho pensado.
Penso que o tempo está passando. Penso que o mundo está cheio de beleza.
Penso que não quero morrer. Penso que quero morrer.
Penso que, se Deus tivesse pedido meus conselhos, o mundo seria melhor.
Dizem que 99% da população brasileira acredita em Deus.
Acho que Deus morre de rir quando lê pesquisas desse tipo.
Ri dos sociólogos tolos que fazem questionários tolos, e dos tolos que dão respostas tolas a perguntas tolas.
Deus é um grande silêncio...
Enviado por Roy Lacerda do blog MomentoBrasil.

4 comentários:

Carla Fernanda disse...

Lindo demais este texto cheio de vida e sentimento.
Tenho umas vontades parecidas...

Beijos Maria José!!

Rô... disse...

oi minha amiga,

e é no silêncio de Deus que ouvimos seus melhores conselhos...

beijinhos

Bell disse...

Oi Ma

a vida é tão curta, que temos que tirar o melhor dela.
E que nesta estrada Deus nós abençoe todos os dias.

bjokas =)

TRIBUNA-BRASIL.COM disse...

Maria José,
PARABÉNS!!!! custou mais volto a ter
o prazer de ler e ver outro texto enviado pelo amigo Roy Lacerda.Abrçs dO INDIGNADO.