Colhemos uma flor pelo encanto
que nos provoca, mais raramente pelo seu perfume. É o prazer dos olhos, mais do
que o da alma. E é, frequentemente, quando queremos mergulhar mais fundo que
podemos encontrar o inesperado, e aí nos decepcionamos, porque criamos uma
ilusão pela imagem, sem pensar na essência.
Quem nunca viu algo que parecia
delicioso e se decepcionou ao provar? Ou, ao contrário, levou muito tempo para
experimentar uma coisa e depois descobriu que era muito bom?
Julgamos, apressadamente, as
coisas e pessoas pelas aparências e nos perdemos em superficialidades,
exatamente como a maioria da raça humana; afinal, fazemos parte dela. Não, todo
mundo não é assim, e se fosse, teríamos que dizer a essas pessoas para provarem
antes de colocarem etiquetas, que dessem oportunidades e chances, ao menos
atraente, de mostrar o que ele tem para oferecer.
As camélias são tão lindas quanto
as rosas, mas elas não possuem nenhum odor, como se fossem vazias de si.
Inversamente, há as flores de lavanda, minúsculas, de simplicidade ímpar e cujo
odor, além de útil, poderia se fixar na alma eternamente.
Pessoas e coisas são assim, ora
belas, ora simples, ora grandes, ora vazias. Mas, se não nos abrimos para
descobri-las, nunca poderemos saber.
Jesus nos alertou para o perigo
do julgamento precipitado quando falou nas sepulturas belas e caiadas. Ele
nasceu de forma simples, viveu como andarilho e morreu entre ladrões. Salvou,
portanto, todos aqueles que veem na cruz mais do que dois pedaços de madeira
cruzados.
Mas não aprendemos nossas lições.
Não queremos aprender, não queremos ser flexíveis e preferimos pensar que a
felicidade mora numa casa grande e bonita, mesmo se não entramos nela; nos
importamos pouco com as histórias que contam as paredes ou cicatrizes. E a vida
é bem mais do que isso.
Abrir-se ao mundo é ver além das
aparências, é fechar os olhos e abrir os do coração, é sentir com as mãos e perceber
que cada objeto tem seu interior, cada pessoa tem seu valor e que temos muito,
muito ainda para aprender com a vida.