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segunda-feira, 16 de julho de 2012

OS GIRASSÓIS E NÓS



Eles são submissos. Mas não há sofrimento nesta submissão.
A sabedoria vegetal os conduz a uma forma de seguimento surpreendente.
Fidelidade incondicional que os determina no mundo, mas sem escravizá-los.
A lógica é simples.
Não há conflito naquele que está no lugar certo, fazendo o que deveria.
É regra da vida que não passa pela força do argumento, nem tampouco no aprendizado dos livros.
É força natural que conduz o caule, ordenando e determinando que a rosa realize o giro, toda vez que mudar a direção do Regente.
Estão mergulhados numa forma de saber milenar, regra que a criação fez questão de deixar na memória da espécie.
Eles não podem sobreviver sem a força que os ilumina.
Por isso, estão entregues aos intermitentes e místicos movimentos de procura.
Eles giram e querem o sol.
Eles são girassóis.
Deles me aproximo.
Penso no meu destino de ser humano.
Penso no quanto eu também sou necessitado de voltar-me para uma força regente, absoluta, determinante.
Preciso de Deus.
Se para Ele não me volto, corro o risco de me desprender de minha possibilidade de ser feliz.
É Nele que meu sentido está todo contido.
Ele resguarda o infinito de tudo o que ainda posso ser.
Descubro maravilhado.
Mas no finito que me envolve posso descobrir o desafio de antecipar, no tempo, o que Nele já está realizado.
Então intuo.
Deus me dá aos poucos, em partes, dia a dia, em fragmentos.
Eu Dele me recebo, assim como o girassol se recebe do sol, porque não pode sobreviver sem sua luz.
A flor condensa, ainda que de forma limitada, porque é criatura, o todo de sua natureza que o sol potencializa.
O mesmo é comigo.
O mesmo é com você.
Deus é nosso sol, e nós não poderíamos chegar a ser quem somos, em essência, se Nele não colocarmos a direção dos nossos olhos.
Cada vez que o nosso olhar se desvia de sua regência, incorremos no risco de fazer ser o nosso sol o que na verdade não passa de luz artificial.
A vida é o lugar da Revelação divina.
É na força da história que descobrimos os rastros do Sagrado.
Não há nenhum problema em descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a chegar ao céu.
Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de nossa busca.
Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo que distribuir fragmentos de pólvora pelos cômodos de nossa morada.
Um risco que não podemos correr.
Tudo o que é humano é frágil, temporário, limitado.
Não é ele que pode nos salvar. Ele é apenas um condutor. É depois dele que podemos encontrar o que verdadeiramente importa.
Ele, o fundamento de tudo o que nos faz ser o que somos.
Ele, o Criador de toda realidade.
Deus trino, onipotente, fonte de toda luz.
Sejamos como os girassóis.
Uma coisa é certa. Nós estamos todos num mesmo campo.
Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar a que precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.
Sejamos afeitos a este movimento místico, natural.
Não prenda os seus olhos no oposto de sua felicidade.
Não queira o engano dos artifícios que insistem em distrair a nossa percepção.
Não podemos substituir o essencial pelo acidental.
É a nossa realização que está em jogo.
Girassol só pode ser feliz, se para o Sol estiver orientado.
É por isso que eles não perdem tempo com as sombras.
Eles já sabem, mas nós precisamos aprender.

2 comentários:

Graça Pereira disse...

O girassol é a minha flor preferida, talvez porque como ele, procuro sempre os dias de sol!
Linda a sua submissão seguindo o Regente, num caminho que o faz feliz.Beijo e boa semana-
Graça

Dilmar Gomes disse...

Amiga Maria, eu também gosto muito dos girassóis. Já fiz pelo menos um poema sobre ele. Inclusive tem um postado aqui no blog, acho que em 2010. Dissertação com muita propriedade essa do Padre Fábio. Um abraço. Tenhas um boa noite.