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sábado, 28 de março de 2009

A VISÃO DE CADA UM


Dois homens, muito enfermos, ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital.
Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. Um deles tinha a sua cama perto da janela e, todos os dias, tinha permissão para se sentar em sua cama, por algumas horas. Tudo como parte do tratamento dos pulmões.
O outro, cuja cama ficava no lado oposto do pequeno cômodo, ficava o dia todo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora.

Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados. Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes. Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves, e dos barcos de brinquedo que coloriam as tardes de verão.
Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola mito disputados entre a criançada.
Dizia que bem além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.
O homem deitado somene escutava e escutava. Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe.
Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor.
O homem deitado quase que podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado.
E, aos poucos, foi se tomando de inveja.
Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade?
Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.
Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sempre, percebeu que o outro começava a passar mal. Acordou tossindo, parecendo sufocar.
Com desespero, o botão de emergência foi acionado. Os enfermeiros correram. O médico veio. Nova aparelhagem respiratória foi providenciada, mas tudo em vão. O homem morreu.
Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela.
Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no leito.
A dor era intensa mas ele insistiu. Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.
Fonte: Livro "Momento Espírita", volume 1.

2 comentários:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. A paisagem se torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa para olhá-la.
Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro que vive, é opção individual.
Há os que sofrem pouco e de desesperam, aumentando sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos.
Há os que sofrem muito e se dizem tranquilos, padecendo serenos.
Fonte: Momento Espírita

Elayne Gemignani disse...

Minha querida amiga,

Esta mensagem me toca profundamente, pela generosidade que sinto no personagem que descreve as cenas para o amigo.
Ele usava isto como uma fuga? Usava para consolar, iluminar o coração e amenizar um pouco as tristezas do companheiro de quarto? acho que as duas opções.
Independente disso, acredito realmente que cada um de nós tem um modo de encarar cada situação. Concordo com sua colocação: A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá.