"Muito tenho pensado na morte nestes últimos tempos. Cuidando de minha mãe que, bem velhinha (quase 100 anos!) se encaminha para essa passagem tão importante e inevitável, tenho pensado na morte diariamente e eu estou me preparando para enfrentar esse momento difícil e triste.
A maioria das pessoas com as quais eu falo sobre o assunto me responde: “Que bom, sua mãe vai fazer cem anos! Que benção”!
Eu não acho que isso seja uma benção, acho sim que seja até mesmo um castigo, uma cobrança cósmica que faz com que a pessoa fique agarrada à vida com uma tenacidade incrível, mesmo que a vida já tenha perdido completamente o sentido.
Provavelmente ela não cumpriu inteiramente ainda sua obrigação desta vida, mesmo tendo passado muitas provas, que eu me lembre, episódios que ela enfrentou com coragem e determinação.
Talvez ela não tenha pensado conscientemente na sua evolução espiritual. Viveu a vida assim, um dia depois do outro, cumprindo seu destino sem se perguntar a razão das alegrias e dos sofrimentos às quais era submetida.
Criada na religião católica mais tradicional na Itália, onde nasceu e cresceu, aprendeu a aceitar os dogmas da igreja com temor, mas não creio que esteja preparada para entrar no Reino dos Céus. Ela tem medo de morrer!
E eu, tenho medo de morrer? E você? Quando encaramos a nossa vida com a utilidade que ela tem realmente (nos ajudar em nossa evolução espiritual), podemos encarar a morte com mais naturalidade e serenidade.
A vida encarnada é uma provação, e nós somos seres espirituais, portanto, vivemos melhor sem o corpo material. O que quero dizer é que deveríamos nos sentir melhor quando não estamos confinados dentro de um corpo físico vivenciando a provação de uma encarnação.
O corpo físico nos submete a provas difíceis e duras; sofremos e choramos muitas vezes, mesmo se temos também muitos momentos de alegria e felicidade.
Então, por que temos medo de morrer? Porque no fundo sabemos que ainda não terminamos nossa missão, não deixamos nossa marca aqui na terra.
Quando uma pessoa morre jovem achamos que ela deveria viver mais, pois ela não teve tempo de viver tudo o que deveria. Mas será isso mesmo? Provavelmente ela já cumpriu sua missão nesta encarnação. Não importa o tempo de vida, importa, sim, a sua qualidade. Importa o que deixamos como marca.
Uma das coisas que mais me chama atenção no envelhecimento é a decadência do corpo físico, que nos coloca na mão dos outros e requer muita humildade de nossa parte. Acabamos por nos tornar dependentes da ajuda e da boa vontade dos nossos familiares e precisamos aceitar as humilhações causadas pela deterioração do corpo, cujas funções não controlamos mais.
A humildade talvez seja a maior lição a ser aprendida num momento como esse; seja de nossa parte, seja por parte daqueles que precisam ajudar um ente querido a enfrentar essa passagem.
Precisamos de muito amor, muita compaixão e muita generosidade, creiam-me. E isso é difícil, muito difícil.
A vida é linda e é o bem mais precioso que temos e muitas vezes não lhe damos o devido valor. Por essa razão, ao mesmo tempo em que devemos viver cada momento de nossa vida com intensidade e agradecimento, devemos também nos preparar para a morte.
Mas nossa civilização ocidental nos prepara muito mal para a morte. As civilizações orientais desfrutam uma espiritualidade maior e encaram essa passagem de forma mais natural.
Dando uma importância exagerada aos valores materiais, nós acabamos encarando o desencarne como um castigo e não como uma benção.
Sabemos muito bem, porém, que morte é conseqüência da vida! E isso é tão certo que a partir do momento em que existe a primeira divisão das células que dão início à própria vida já começamos a morrer! Com isso quero dizer que estou chegando a uma conclusão: se hoje fosse meu último dia, se um anjo viesse me dizer que amanhã eu morrerei, eu ficaria feliz com aquilo que fiz nesta vida. Partiria sem remorsos, pronta para a outra experiência. Só me despediria das pessoas que amo, dos meus filhos e familiares, e dos amigos íntimos que sempre me apoiaram ao longo desta caminhada. Só pediria a Deus que não fosse com dor, e que a passagem fosse suave e doce como um bom sono. Porque tenho certeza que terei deixado uma marca, mesmo que pequena. Minha pequena contribuição.
E você, já se perguntou o que você faria se um anjo viesse lhe anunciar que tem somente mais um dia de vida? Muitos de nós vivemos tão mergulhados no mundo material que esquecemos do essencial: quando partimos o que resta de nós são os valores morais, sentimentos de amor e carinho que deixamos nos corações daqueles que amamos e que nos amaram.
A triste realidade é que a maioria de nós não vive visando a sua evolução espiritual e por essa razão vegeta, ou seja, passa pela vida sem deixar rastros, vivendo somente pelos prazeres do corpo físico.
Quando uma pessoa jovem morre, entristecemos, pois pensamos: “Que tragédia, ele tinha tanto ainda para viver”, e quando uma pessoa velha morre, pensamos: ”Finalmente, ela viveu uma vida longa”. Mas deveríamos nos perguntar: “Será que ela cumpriu a promessa de sua encarnação até o fim? Será que essa vida, curta ou longa, serviu para sua evolução espiritual? Será que ela deixou alguma marca de sua passagem”? Muitas pessoas vivem pouco e deixam uma marca importante. Outras vivem muito e não deixam nada de importante em sua passagem, tendo vivido uma vida materialista e egoísta, sem escopo nem finalidade.
A Cabala nos ensina que existem três caminhos principais para evoluir espiritualmente.
Em síntese: o primeiro é o caminho da Coluna Direita, a Coluna da Beleza. Este caminho é usado pelos artistas de todos os tipos que expressam sua alegria de viver criando e interpretando a beleza deste mundo para agradecer ao Criador.
O segundo é o Caminho da Coluna Esquerda, a Coluna da Força, que é usado pelas pessoas de ação, que lutam em prol da humanidade para modificá-la e melhorá-la, muitas vezes com a própria ação física.
O caminho do Meio é aquele da Coluna do Equilíbrio, é o caminho do Cristo, dos santos, dos avatares e outros seres evoluídos espiritualmente que dedicam sua vida toda a ajudar os outros seres humanos a evoluírem espiritualmente e se tornam exemplo de virtude, de bondade, de solidariedade humana.
E você, que caminho está tomando? Que marca você irá deixar nesta encarnação?
Por essa razão, se um anjo me disser que não chegarei viva até amanhã, creia-me, sei que eu já cumpri minha missão. O importante então é que vivamos o hoje como se fosse o nosso último dia. Lembre-se que, quando todas as coisas físicas se forem, desmanchadas e transformadas pela lei inexorável da matéria, o que ficará de nós será a quantidade de Luz que teremos ajudado a espalhar ao nosso redor.”
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