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sábado, 28 de março de 2009

SAUDADE


A gente sente saudade de um monte de coisas do passado: do doce que só a vovó sabia fazer; da cidade que moramos quando crianças; da casa que ficava no Largo São Francisco; da primeira professora do Grupo Escolar; dos colegas da faculdade; dos grandes amigos conquistados ao longo da vida... Sentimos saudade daquelas pessoas que nos foram importantes na vida e para a vida e que partiram deste mundo.
Algumas dessas saudades são lembranças agradáveis e que nos levam, temporariamente, a um estado nostálgico. Outras saudades machucam a alma.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade da filha que partiu para a outra esfera espiritual. É a saudade de quem se ama profundamente, incondicionalmente, para todo o sempre.


Tenho saudade de você! Ah! Quanta saudade! Sinto a sua falta! Sinto vontade de te apertar, de te beijar, de te abraçar, de ouvir a sua voz, de ouvir o seu dedilhar no computador. Sinto saudade de te ajudar, de te servir, te levar água no quarto. Sinto saudade de estar de mãos dadas com você, de alisar sua mãozinha, e senti-la como o mais macio dos pêssegos. Sinto saudade de te esperar, de te aprontar pra sair, de te telefonar. Sinto até saudade de estar preocupada com a sua hora de chegar. “Onde está esta menina?” “Por que não atende o celular?” Sinto saudade de sair com você, de planejar com você. Sinto saudade do seu cheiro, da sua risada, do seu sorriso, da sua aflição, da sua pressa. Sinto saudade de te ver enrolar todos os dedinhos do pé com band-aid pra sair com o sapato perfeito. Sinto saudade de te ver com a máquina digital fotografando e filmando tudo à sua volta, como se quisesse guardar todas as cenas belas da vida. Sinto saudade da sua paixão pelo “Asa de Águia”. Sinto saudade de te ver patinando, tão ágil e habilidosa naqueles patins profissionais roller, descendo ladeiras e tudo o mais. Sinto saudade de te acordar, de dormir com você, de te cobrir, de ligar o ventilador pra você, de ouvir a sua respiração e o seu ressonar. Sinto saudade de te ver toda de branco. Que orgulho da minha “doutorinha”. Sinto saudade de te levar pra tomar vacina. De comprar brincos e bolsas e de ir ao supermercado com você. Sinto saudade de ir para o Zoológico ouvindo o Jorge Aragão e de saber notícias de seus pacientes bichinhos: a macaca Naomi, a girafa Léo, a ararinha, a oncinha. Sinto saudade de saber das novidades da faculdade, dos estágios e das complicadas cirurgias que fazia. Sinto saudade de arrumar suas coisas, de partilhar o armário com você. Sinto saudade de te dar boa noite e de te ter à minha espera. Sinto muita saudade de você! Muita mesmo!
Saudade de saber o que está acontecendo agora. Onde você está? O que está fazendo agora? Com quem está? Está feliz?
Há um imenso vazio na vida. Há uma lacuna que nunca vai ser preenchida. Existe dor. Existe vazio. O que fazer com os dias que ficaram tristes? O que fazer com o futuro que perdeu a sua perspectiva? Como vencer esta dor que insiste em ficar? Este silêncio que nada preenche? Como viver a vida, um dia depois do outro, cumprindo meu destino, sem me perguntar a razão de todo este sofrimento?
Esta saudade aperta a alma, dói o coração.
Sinto saudade de você, da sua presença, da sua mão segurando a minha, do seu coração que entendia o meu.
Tenho saudade de tudo, pois você, minha filha, representava o tudo.
Te amo. Para sempre.

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