Procrastinar é algo de que pouco se fala, mas que
muito se faz. Embora “embromação” possa ser um de seus quase sinônimos
populares, a procrastinação vai um pouco além disso. É um comportamento crônico
nocivo, embora muito comum.
É aquele hábito de deixar tudo para depois: uma
tarefa “chata”, os estudos, o regime alimentar, as práticas físicas, o abandono
de um vício, passar a economizar – coisas que sabemos que precisamos fazer, mas
que, por inúmeras razões, ficamos adiando; muitas vezes nos enganando com
desculpas frágeis e, não raro, falsas.
O procrastinador é alguém faz várias coisas ao mesmo
tempo, exatamente para não fazer aquilo que realmente deve ser feito. Quando
pensa no que de fato tem de fazer, sente-se preso e sem reação.
As consequências não raro são danosas, especialmente
a longo prazo, quando, olhando pra trás, se percebe quanto tempo foi jogado
fora por falta de ação objetiva.
Ao deixar de cumprir certas obrigações, decepcionamos
alguém e perdemos credibilidade e oportunidades. Isso se percebe claramente na
vida conjugal, no convívio familiar e na carreira profissional. Depois ficamos
observando a trajetória de outras pessoas, que entraram em forma, ganharam
conhecimentos e avançaram profissionalmente.
Quando vejo pessoas querendo empreender grandes
mudanças de imediato, sei que estou diante de um procrastinador, porque ele
fica inativo por muito tempo e, depois que percebe nos outros o quanto não
evoluiu, resolve mudar tudo de uma vez.
É óbvio que não vai conseguir, porque as nossas
grandes realizações são conquistadas aos poucos.
Desse modo, novamente derrotada, essa pessoa tende a
desanimar e voltar a procrastinar novamente, repetindo um ciclo fadado à
infelicidade.
Enquanto procrastina, a pessoa vai absorvendo
estresse por uma oculta sensação de culpa, sentindo a sua perda de
produtividade e cultivando vergonha em relação aos demais, por não conseguir
cumprir seus compromissos.
A formação de um “enrolador” muitas vezes começa na
infância. Crianças podem tornar-se procrastinadoras no futuro por conta do
tratamento que recebem dos adultos. Daí a conveniência de revermos
constantemente as nossas crenças, para nos livrarmos de influências negativas
que adquirimos ao longo da vida.
Duas das vertentes mais clássicas são:
– A criança extremamente protegida, condicionada a
achar que sempre alguém fará por ela. Quando adulta, ela tenderá,
inconscientemente, a sentir-se insegura para agir, por não ter alguém
auxiliando-a.
– A criança que é exageradamente cobrada. Ela pode
desenvolver a característica do perfeccionismo. Assim, ela tende à
procrastinação por acreditar que, mesmo se dedicando, não conseguirá realizar
as coisas de modo primoroso – e acaba postergando tudo o que acha importante.
Tratamento
A procrastinação crônica é quase sempre associada a
alguma disfunção psicológica ou fisiológica. Portanto, é passível de
tratamento.
Recomendações que ajudam muito a livrá-los dessa
anomalia. Eis algumas:
– Reconheça, quando está enrolando, que pode haver
mais dor em procrastinar do que em realizar a tarefa. Muita coisa é menos
complicada do que parece ser.
– Não deixe aquele afazer chato por último, para que
ele não se torne urgente e o apavore ainda mais.
– Experimente a sensação de alívio e o
fortalecimento da autoestima após concluir uma tarefa e perceba que livrou-se
dela de maneira positiva, enfrentando-a.
– Para encorajar-se, pense no que vai deixar de
ganhar ou no que pode perder caso não realize essa atividade. Se puder escrevê-las
e avaliá-las seriamente, melhor.
– Se a tarefa for muito trabalhosa, divida-a em
partes e vá realizando uma a uma, com um pequeno intervalo entre elas, e
comemorando (sim!) a última concluída.
– Abra-se para o novo, deixando de agarrar-se às
velhas experiências e crenças. O passado não volta mais; o presente é
continuamente feito de novos desafios e o futuro é construído passo a passo
pelas ações do presente.
– Quando perceber que está querendo procrastinar de
novo, proponha-se a atuar por apenas alguns minutos na ação que está tentando
evitar. Pode ser que você perceba que não é tão desagradável quanto pensava e
venha a vencê-la (touché!).
– Caso lhe seja por demais desagradável, dê-se uma
pausa e passe a fazer algo útil (não pare de agir), mas determine quando
voltará ao assunto pendente.
A principal vitória é vencer a procrastinação em si.
Trata-se de uma vitória para a vida inteira, como a daquela criança que um dia
perde o medo do escuro.