No ano novo, bem mais do que nos outros, quero
alimentar o meu coração com mais daquilo que eu sei que ele gosta e é capaz de
nutri-lo. Quero escolher com todo amor os ingredientes de cada refeição.
Cozinhar mais vezes para ele. Usar os temperos que mais aprecia. Dedicar um
tempo maior para preparar a mesa. E, depois de servi-lo, desfrutar a delícia de
vê-lo saborear o que preparei. Curtir o conforto de me saber responsável pelo
seu contentamento. Aquele gostinho bom do “fui eu que fiz pra você”.
No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter
mais gentileza com os meus sentimentos. Com todos eles, sem exceção. Quero ter
mais habilidade para ouvir o que têm pra me contar, sem tentar abafar a voz
daqueles que podem me trazer desconforto. Quero deixar que se expressem,
exatamente com a cara que têm. Que me façam surpresas. Que me apontem as
mudanças que já aconteceram e me falem sobre aquelas que pedem para acontecer.
Quero que me mostrem as regiões ainda feridas em mim que precisam de olhar, de
cura ou de perdão. Não quero sentimento acuado, amordaçado, varrido pra debaixo
do tapete. Quero ser a melhor confidente de cada um.
No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter
mais cuidado com os sentimentos alheios. Mais compaixão. Mais empatia. Mais
tolerância. Suspender o julgamento. Trocar a crítica pelo respeito. Parar de
achar que eu faria diferente, que eu diria diferente, quando não é a minha vida
que está na berlinda. Quero lembrar mais vezes o quanto nos exige cada
superação, cada avanço, cada conquista, cada descoberta das chaves capazes de
abrir os cárceres que inventamos para nós. Quero lembrar mais vezes do quanto eu
falho, mesmo quando quero acertar. Do quanto eu ainda me atrapalho comigo. Do
quanto preciso ser generosa com a minha trajetória a cada novo projeto
anunciado pela minha alma. A cada nova tentativa. A cada novo tropeço.
No ano novo, quero me encantar mais vezes. Admirar
mais vezes. Compartilhar mais amor. Dançar com a vida com mais leveza, sem medo
de pisarmos nos pés uma da outra. Quero fazer o meu coração arrepiar mais frequentemente
de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada. Quero sair por aí de
mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa. Brincar com ela mais
amiúde. Fazer arte. Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo.
Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor.
Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos, mesmo àqueles muito
antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o seu viço. Quero sintonizar
a minha frequência com a música da delicadeza. Do entusiasmo. Da fé. Da
generosidade. Das trocas afetivas. Das alegrias que começam a florir dentro da
gente.
No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter
atenção com relação ao que sinto, ao que vejo, ao que propago. Mais cuidado
para não me intoxicar com os apelos do medo e do pessimismo, tão divulgados
nesses nossos tempos. Usufruir mais a sábia isenção que nos permite continuar a
ver o melhor para a nossa vida e para a vida de todos os seres, apesar de. Não
me importa se eu olhar na contramão: quero ter a coragem de sustentar a minha
crença de que o amor, a paz, a luz, hão de prevalecer na Terra, e, enquanto
isso não acontecer, quero dirigir também a minha energia ao propósito de que
prevaleçam em mim.
No ano novo, bem mais do que nos outros, eu quero
me sentir feliz. Uma felicidade que não está condicionada à realização das
coisas que, particularmente, anseio para mim. Para a minha história nesse
mundo. Para essa personagem que eu visto. Quero, antes de qualquer outra razão,
me sentir feliz por encontrar descanso e contentamento no meu coração. Por
tocar com o sentimento a preciosidade da vida. Por saber que existem coisas
para eu realizar enquanto estou por aqui. Por acreditar que a maior proposta da
ideia humana é a felicidade. Não importa quantas nuvens eu possa ter que
dissipar no ano que começa: gente, por natureza, é sol, e eu quero viver esse
lume.