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domingo, 5 de fevereiro de 2017

O MONGE QUE SENTIA RAIVA


Um estudante do Zen veio até Bankei e disse: 
- “Mestre, tenho um temperamento incontrolável. Como posso me curar disso?”
- “Mostre para mim esse temperamento, “ disse Bankei, “pois ele me soa fascinante.”
- “Não estou destemperado agora,” disse o estudante, “assim não posso mostrá-lo a você.”
- “Então,” disse Bankei, “traga-o para mim quando você o tiver.”
- “Mas não posso trazê-lo quando este acontecer,” protestou o estudante. “É algo que surge inesperadamente, e certamente já o terei perdido antes de chegar até você.”
- “Nesse caso,” disse Bankei, ”Isso não pode ser parte de sua verdadeira natureza. Se fosse, você poderia mostrá-lo para mim a qualquer momento. Quando você nasceu não tinha esse temperamento, então isso deve ter vindo de fora. Sugiro que, sempre que isso acontecer, você bata em si mesmo com uma vara até que o temperamento e o descontrole irem embora. Mesmo quando a raiva estiver acontecendo, se você tornar-se subitamente cônscio, ela desaparece. Experimente! Justo em meio a tudo isso, quando seu sangue estiver fervendo e desejar matar alguém, nesse exato momento torne-se consciente, e verá que alguma coisa mudou: você verá uma pequena engrenagem dentro ‘encaixando’, você pode sentir o clique, seu ser interior relaxou. Pode levar tempo para sua camada externa relaxar, mas o ser interior já relaxou. A cooperação foi quebrada...agora você não está mais identificado. O corpo levará algum tempo para descansar, mas bem fundo no centro ,tudo está tranquilo.

A Percepção é necessária, não a condenação. E através da percepção, a transformação acontece espontaneamente. Se perceber sua raiva, o entendimento penetrará em você. Apenas observando, sem nenhum julgamento, nem dizendo que é bom nem ruim, só observando seu céu interior. 
Há relâmpagos, há raiva, você esquenta, todo o sistema nervoso se agita e você sente um tremor pelo corpo inteiro – um belo momento, pois a energia ativa pode ser observada facilmente. Quando esta não está ativa você não pode observá-la.
Feche os olhos e medite sobre isso. Não lute, apenas olhe no que está acontecendo – o céu inteiro cheio de eletricidade, tantos relâmpagos, tanta beleza. Deite-se no chão e olhe para o céu e observe. Depois faça o mesmo dentro de você.
Alguém lhe insultou, alguém riu de você, alguém disse isso ou aquilo... muitas nuvens, nuvens negras no céu interior e muitos relâmpagos. Observe! É uma cena bonita – terrível também, pois você não a compreende. É misteriosa e, se o mistério não for compreendido, torna-se terrível, você fica com medo dele. E sempre que um mistério é compreendido, torna-se uma graça, um presente, pois agora você possui as chaves, e com elas, você é o mestre.


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