E no meio dessa confusão alguém partiu sem se
despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste,
talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um
baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e
depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última
vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se
encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um
para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza,
e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem
saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um
inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um
recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas
não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz
sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que
importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa
noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros
verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as
paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não
havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois
bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um
telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada.
Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio
torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a
pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de
cigarra perdido numa tarde de domingo.
Extraído do livro
"A Traição das Elegantes
7 comentários:
Que texto maravilhoso!
É uma boa escolha perfeita,adorei!
Bjs
Olá, queria Maria José
Feliz 2014!!!
Bjm fraterno
Lindo texto! Penso que esta é a despedida menos imperfeita para a separação de dois amantes.
Beijinhos
oi minha amiga,
é tão lindo...
vou voltar e ler mais uma vez...
beijinhos
Maria Jose: Linda escolha deste texto adorei. esta despedida é a mais adequada para a despedida de dois amantes.
Beijos
Santa Cruz
Brilhou como uma estrela cadente e simplesmente se foi.Ficou uma lembrança boa e uma pergunta.
Belo texto!
um abraço
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