Às vezes, como agora, movida por certos movimentos que se alastram como ondas por todo o nosso planeta, sinto uma urgência em falar sobre certos assuntos.
O mundo inteiro vem sendo sacudido por acontecimentos que abalam a todos nós. Estruturas que pareciam confiáveis e seguras, de um momento para outro, mostram toda a sua fragilidade. Prédios caem sob a força da natureza, a economia mundial treme, as pessoas perdem-se em meio a um pânico que só torna tudo pior. Coletivamente, estamos enfrentando um tsunami simbólico, uma enorme onda que está varrendo o planeta, espalhando medo, insegurança e angústia.
Como podemos enfrentar, de forma mais equilibrada, um momento como esse?
Eu penso no ser humano como um ser ainda inacabado. Evoluímos biologicamente, mas ainda temos um longo caminho até nos tornarmos uma espécie realmente viável. A evolução precisa continuar acontecendo (e continua), agora no nível da nossa consciência. Precisamos nos tornar mais sábios, com urgência! Precisamos evoluir em nossos valores ou corremos o risco de não conseguir seguir adiante. Precisamos aprender a escolher melhor o que queremos.
Quando será que compreenderemos, enquanto espécie, o quanto são ilusórias a maior parte de nossas buscas e desejos?
Montamos nossa casa na superfície da vida, nessa mesma superfície que está sendo varrida por uma onda gigante de acontecimentos que não podemos controlar. Valorizamos coisas que são impermanentes e isso nos deixa com uma constante sensação de insegurança. Nunca podemos descansar, precisamos continuar sempre refazendo os castelos de areia que insistimos em construir à beira-mar.
Eu sei que você já ouviu falar sobre isso várias vezes, mas tente sentir, por um instante o que as palavras transmitem.
A verdade é que não existe segurança real em nada que esteja fora de nós. A segurança não está em nossos bens materiais, não está na espessura das paredes de nossas casas, não está nas pessoas que aparentemente nos protegem. Qualquer coisa que exista fora de nós pode ser varrida do mapa de um momento para o outro, essa é a verdade, mesmo que seja incômodo para você ouvi-la.
A única segurança real, que não pode jamais ser levada de nós, é a segurança que podemos encontrar em nosso íntimo. É a segurança que podemos encontrar ao sentir que existe, dentro de nós, um espaço de força e sabedoria. É a segurança de que, resgatada essa sabedoria, conseguiremos lidar com o que quer que venha em nossa direção.
Precisamos aceitar algo:
- Não temos poder para controlar a vida.
Nenhum de nós tem como controlar a vida. Não podemos controlar o que vai nos acontecer. Não podemos impedir que as bolsas caiam, não podemos impedir que nossos bens sejam roubados, por mais medidas protetoras que tenhamos tomado; não podemos impedir que uma pessoa que amamos nos abandone. Não podemos aprisionar a vida e obrigá-la a seguir na direção que nos é mais confortável.
Podemos, isso sim, fazer o nosso melhor. Podemos construir nossas casas em um lugar mais seguro, esse que existe dentro de nós. Podemos aprender a valorizar e cuidar com carinho do que temos, podemos valorizar nossos relacionamentos, podemos ser observadores e evoluir no sentido de fazer escolhas mais sábias. Mas, feito isso, não há mais o que fazer.
E é nesse momento, mergulhados em uma inevitável sensação de impotência, que podemos “ser” mais. Podemos resgatar de nossas profundezas as pérolas poderosas capazes de aliviar nossa dor. É nesses momentos em que, atirados ao chão pela fragilidade humana, nos descobrimos sobre-humanos ao não desistir. É nesses momentos que, mesmo abalados, seguimos em frente, confiantes de que encontraremos uma maneira de nos tornarmos mais inteiros.
A força brota em nós quando nos recusamos a ser controlados pelo medo.
A força vem quando paramos de sofrer pelo que não podemos controlar e assumimos responsabilidade por aquilo que está ao nosso alcance, um passo por vez.
A força vem quando percebemos em nós algo maior que não pode ser destruído. Quando sentimos a existência desse “algo” em nossas profundezas (chame isso como quiser: sua luz, sua essência, sua sabedoria...), uma coisa muito especial acontece: diminuímos sensivelmente o nosso sofrimento.
Subitamente encontramos paz em meio ao tormento. E, acredite, de dentro dessa paz enxergamos melhor.
Nos momentos de dificuldade, mais do que em qualquer outro, precisamos ser capazes de manter a paz, para que possamos manter a lucidez, encontrar saídas, elaborar soluções criativas, fazer o que precisa ser feito. Essa é a hora em que temos a chance de nos apropriar de nossa tenacidade, de nossa capacidade de seguir adiante (quando muitos desistem), de superar nossos medos e descobrir a força de um coração que age (cor-agem). É a hora de ir além do cotidiano robótico em que vivemos e experimentar a força de nossas asas, que se recusam a parar de bater.
Assim, em momentos de desafios, procure aquilo que existe além das fronteiras conhecidas do seu ser. E acredite, existe lá alguém mais sábio e poderoso, uma parte sua que pode ajudar você a enfrentar seus desafios, a reverter a seu favor esse momento aparentemente sombrio e assustador. Talvez você esteja assistindo ao nascimento de si mesmo.
Nuestra constancia y nuestra perseverancia daran a luz a una nueva identidad, más fuerte y enérgico.
ResponderExcluirPreciosas Reflexiones.
Un abrazo.
Olá Maria José, excelente texto....
ResponderExcluirCumprimentos
A segurança e a sabedoria construindo um mundo melhor a cada dia, e precisamos doar de nós essa centelha luminosa senão não ilumina! abraços
ResponderExcluirDentro do caos que se vive em Portugal, talvez eu encontre o meu caminho.
ResponderExcluirBeijo
Graça
Um texto precioso. Muitas respostas que procuramos estão em nós mesmos, é onde também está toda essa fortaleza para enfrentar as adversidades. Recorrer a essa força interior, descobrir-se, renascer, e reconhecer em si uma fagulha da criação divina. Todos temos essa força e essa luz. Um abraço
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