Minha mãe era analfabeta, mas sabia fazer contas como ninguém. Multiplicava os salgadinhos que fazia pelo preço unitário e chegava ao resultado antes mesmo de nós, os filhos, que sabíamos a tabuada de cor. Ela não sabia ler, mas exigia que os filhos só tirassem notas boas na escola.
Era Dia das Mães. Eu tinha 15 anos. Morávamos em uma casinha simples e brilhante no interior do Paraná. Minha mãe havia recebido uma encomenda muito grande de salgadinhos e tinha ganhado um bom dinheiro. Prometera que o almoço desse dia, além daquele frango maravilhoso que ela fazia como ninguém, teria uma sobremesa surpresa.
Estávamos acostumados aos doces de todo dia: de abóbora, de mamão, de cidra... Mas eram doces caseiros, doces que já não tinham a surpresa do sabor. Ficamos imaginando qual seria a surpresa. Um pudim de leite condensado? Morangos com chantilly? Era época de morangos?
Domingo, mesa posta, a família reunida. Esperávamos meu pai que tinha ido à missa. No ar, uma alegria misturada com o mistério da sobremesa. Meu pai chegou, almoçamos...
“E, mãe, cadê a sobremesa?”
Não havia nada na geladeira, nada que nossas bisbilhotices pudessem ter descoberto! Minha mãe foi até seu quarto e, de dentro do armário, tirou uma caixa de papelão. Dentro, bem escondidas, embrulhadas em jornal, havia três latas de doces. De doces, como ela supunha que fossem.
“Vejam só crianças”, disse minha mãe.”Pêras em calda!!”
Na foto que ilustrava a lata, as batatas eram facilmente confundidas com pêras. Minha mãe, que não sabia ler, não poderia imaginar que existisse batata em conserva. E em latas, como as pêras e os pêssegos.
Ninguém teve coragem de falar. Ou, antes, ninguém queria falar. Minha mãe começou a abrir aquelas latas, feliz e orgulhosa. Despejou o conteúdo numa travessa e, acho que na excitação do ato, nem percebeu que eram batatas.
Ela começou a servir um por um. Todos quietos, recebendo suas porções sem saber o que dizer. O primeiro começou a comer, seguido por outro, e outro, que seguiu os demais. E, de repente éramos quatro filhos e um pai comendo batatas como se fossem pêras. Minha mãe tinha o hábito de servir os filhos. Ficava andando pela cozinha e, quase sempre, só se sentava quando praticamente tínhamos acabado a refeição.
Quando terminamos de comer a sobremesa – juro, juro, que todo mundo comeu toda a sua porção – minha mãe perguntou: “Estava bom?” Todos responderam que estava ótimo. Sobrou na tigela uma batata. Minha mãe disse que não queria, não gostava de pêra. Meu pai, rapidamente, falou: “Vou acabar com esse pedaço então. Está muito bom!”
Minha mãe morreu em 2006.
Nunca soube que serviu batatas de sobremesa. Porque, para nós, o que comemos naquele dia foi a pêra mais saborosa do mundo. Mesmo que não o tenha sido naquele dia, nas nossas lembranças, aquela cumplicidade muda, com que nós, seus filhos, nos comunicamos só com o olhar, transformou a batata azeda na fruta doce.
Enviado por Duendes do blog http://terradeduendes.blogspot.com/
Que relato tocante! Quanto amor por essa mãe! Às vezes é tão melhor omitir uma verdade pra não causar aborrecimento ou tristeza ao outro. O que realmente importava não era a qualidade da sobremesa, mas o carinho com que esta foi comprada. Beijos e fique com Deus!
ResponderExcluirGostei, uma reminiscência! Daquelas de viajar no tempo! Voltar á velha casa e rever a velha infância!
ResponderExcluirOlá Maria José Rezende,
ResponderExcluirUma história, com gente de verdade, com situações de verdade, com sentimentos verdadeiros, até na cumplicidade.
Surpreendente a mensagem de Amor para todas as Mães do Mundo, que tudo deram aos seus Filhos, quantas vezes esquecendo-se delas mesmo!
Tenho uma Mãe assim!
Uma Mãe que não me teve mas me criou desde os 4 anos.
Muito mais Mãe que qualquer outra Mãe!
É uma homenagem merecida a todas as Mães.
Agradeço-te mais uma vez tão bela mensagem.
Um abraço e até sempre,
José Gonçalves
(Guimarães)
As lembranças fazem magica no coração, paz.
ResponderExcluirBeijo Lisette
Querida amiga linda historia.. el amor que una madre nos entrega e tao grande que ate un pao que de suas maos nos entrega e tan doce que nele o cariño dela ao compàrtir e muito grande y con amor verdadeiro ... que linda historia amiga.. felicidades
ResponderExcluirAbracos
linda semana
Que tocante história querida...muito lindo o tamanho do amor desta família...beijinhos...
ResponderExcluirvaléria
Visite Sinais No Mundo e faço o discernimento sobre a Vida Contemplativa.
ResponderExcluirPARA VER MINHA MÃEZINHA FELIZ COMERIA ATÉ JILÓ AO VINAGRETE!
ResponderExcluir(que é muito bom por sinal)
tenha uma noite de paz e luz!
beijo
Boa moite amiga, que história linda de amor e cumplicidade.
ResponderExcluirComo é bom lembrar coisas que nos remetem à infância, onde a inocência ainda impera em nossos corações.
Beijos, com muito carinho e admiração.
QUe linda demonstração de amor e reconhecimento a mãe!!! Me emocionei ao ler. beijos
ResponderExcluirNossa..........!!!!
ResponderExcluirFiquei muito emocionada...História lindissima!
Que sauades de mnha mãe que já partiu já faz muito tempo.
Beijos em seu coração e muita paz
MARIA JOSÉ: Harmonia e educação familiar, típica dos anos 40. Lembrou-me oa almoços em casa do vovô(qto ao respeito mútuo) de filhos e netos. Tive uma criação familiar bastante parecida, qto a ação realizada, entre pai e filhos. Abrçs. Roy Lacerda.
ResponderExcluirOlá querida
ResponderExcluirSempre digo que o amor faz milagres basta querer.
Com muito carinho BJS.
Muito linda esta sua história, muito tocante.
ResponderExcluirUm abraço de Portugal !
Beijinhos
Veja Maria José
ResponderExcluirEssa mãe era tão velada em relação aos seus que não poderia ser diferente a atitude da família.
Isso se chama amor.
Lindo.
Grata por compartilhar tão linda história.
Beijo
alzira
Oie Maria, bom dia e que seja um lindo dia! Maravilhoso e cheinho de energias positivas viu. Passei para te ler, admirar e deixar meu beijo!
ResponderExcluirO que o amor não faz?
ResponderExcluirLinda história.
beijos
Oi maria José, muito tocante esta estória, ver como eram educadas essas crianças e como existia amor e cumplicidade entre ambos.Um abraço carinhoso. Celina
ResponderExcluirQue emocionante!
ResponderExcluirEssa história me fez chegar às lágrimas!
Com certeza, nas famílias de hoje, a cumplicidade está longe de existir.
Belo depoimento!
Esse post me fez voltar ao tempo das sobremesas: abobora, cidra, figo...doces caseiros, mas que são os meus preferidos.
ResponderExcluirLinda história.
beijooo.
Muy bella tu historia, gracias querida amiga por compartirla.. un beso. con mucho cariño te dejo.
ResponderExcluirSiempre es un inmenso placer leerte..
Un abrazo
Saludos fraternos...
Que tengas un bello día...
Que disfrutes de un hermoso fin de semana....
Maria José,
ResponderExcluirlinda história. E tocante.
Que mãe!!! E que Amor na família!!!
Um beijo, Coração e obrigado por compartilhar este Amor em forma de história.
Beijo, sempre!
Querida Maria José vc tem o dom de me emocionar e muito, que lindo o que vcs fizeram, atitude para poucos, lindo demais! Parabéns!
ResponderExcluirBeijo, beijo! ;)