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sexta-feira, 18 de maio de 2012

A SABEDORIA DO MENDIGO




Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade. Ao seu lado, o fiel escudeiro, um vira-lata que atendia pelo nome de Malhado.
Serapião não pedia dinheiro. Aceitava sempre um pão, uma banana, um pedaço de bolo ou um almoço feito com sobras de comida dos mais abastados.
Quando suas roupas estavam imprestáveis, logo era socorrido por alguma alma caridosa. Mudava a apresentação e era alvo de brincadeiras. Serapião era conhecido como um homem bom, que perdera a razão, a família, os amigos e até a identidade.
Não bebia bebida alcoólica, estava sempre tranquilo, mesmo quando não havia recebido nem um pouco de comida. Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa e, sempre na hora que Deus determinava, alguém lhe estendia uma porção de alimentos. Serapião agradecia com reverência e rogava a Deus pela pessoa que o ajudava.
Tudo que ganhava, dava primeiro para o Malhado, que, paciente, comia e ficava a esperar por mais um pouco. Não tinham onde dormir; onde anoiteciam, lá dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo embaixo da ponte e, ali o mendigo ficava a meditar, com um olhar perdido no horizonte.
Aquela figura me deixava sempre pensativo, pois eu não entendia aquela vida vegetativa, sem progresso, sem esperança e sem um futuro promissor.
Certo dia, com a desculpa de lhe oferecer umas bananas, fui bater um papo com o velho Serapião. Iniciei a conversa falando do Malhado, perguntei pela idade dele, o que Serapião, não sabia. Dizia não ter ideia, pois se encontraram um certo dia quando ambos andavam pelas ruas e falou:
- Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço; e ele agradeceu, abanando o rabo. Daí, não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu retribuo essa ajuda sempre que posso.
Curioso perguntei: - Como vocês se ajudam?
- Ele me vigia quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele late e ataca. Também quando ele dorme, eu fico vigiando para que outro cachorro não o incomode.
Continuando a conversa, perguntei: - Serapião, você tem algum desejo na vida?
- Sim, respondeu ele - tenho vontade de comer um cachorro quente, daqueles que a Zezé vende ali na esquina.
- Só isso? Indaguei.
- É, no momento é só isso que eu desejo.
- Pois bem, vou satisfazer agora esse grande desejo.
Saí e comprei um cachorro quente para o mendigo. Voltei e lhe entreguei. Ele arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva e em seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado, e comeu o pão com os temperos.
Não entendi aquele gesto do mendigo, pois imaginava ser a salsicha o melhor pedaço. Não me contive e perguntei, intrigado: - Por que você deu para ao Malhado, logo a salsicha?
Ele com a boca cheia respondeu: - Para o melhor amigo, o melhor pedaço! E continuou comendo, alegre e satisfeito.
Despedi-me do Serapião, passei a mão na cabeça do Malhado e sai pensando. Aprendi como é bom ter amigos. Pessoas em que possamos confiar. Por outro lado, é bom ser amigo de alguém e ter a satisfação de ser reconhecido como tal.
Jamais esquecerei a sabedoria daquele eremita: "PARA O MELHOR AMIGO O MELHOR PEDAÇO"
Enviado por Roy Lacerda do blog
MomentoBrasil e foi aqui postado, por ser pertinente à proposta do Arca.

3 comentários:

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

É NEM SEMPRE O MELHOR AMIGO É O QUE VESTE A MELHOR ROUPA!

PASSANDO PARA DESEJAR UM ABENÇOADO FIM DE SEMANA!
BEIJO

Ben disse...

Querida irmã e amiga Maria José!
O fruto da verdadeira amizade é semelhante ao do verdadeiro amor e que Paulo muito bem definiu em sua Carta aos Coríntios quando disse:
“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba;” (I Co 13.4-8).
A verdadeira amizade, assim como o amor busca sempre o bem estar do amigo. Vivemos em um mundo onde nem todos valorizam os amigos, mas procuram satisfazer antes as suas próprias necessidades. Felizmente a vida e o exemplo de alguns nos incentivam à mudança e nos mostram que vale a pena ter amigos.
É muito bom ser seu amigo.
Que o senhor continue te abençoando grandemente.
Ben

Cidinha disse...

Olá Maria. Belo exemplo de sabedoria. Para o melhor amigo, o melhor pedaço. Essa é a verdadeira amizade! Muita emoção. Linda imagem! Bjos.