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sábado, 17 de abril de 2010

O SERMÃO DO PADRE DURANTE O CASAMENTO


Mario Quintana foi um dos maiores poetas brasileiros. Nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1906 e morreu em Porto Alegre.
Sua poesia foi caracterizada especialmente pela simplicidade, utilização de uma linguagem coloquial e cotidiana, além de exprimir um sutil humor. Neste texto o poeta expressou o que achava do sermão dos padres durante o casamento.
"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:
'Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?'
Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela, pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
Promete se deixar conhecer?
Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher.
Declaro-os maduros!

10 comentários:

Graça Pereira disse...

A Homilia mais perfeita e condizente com a natureza masculina e feminina. Está tudo ali: os passos certeiros para que a união seja um sucesso.
Beijo amigo e um bom domingo
Graça

Vida*** disse...

Perfeito!! Rsrsrs.Confiança e liberdade de expressão entre dois seres que se amam é fundamental.União em movimento continuo.

angela disse...

Muito bonito e realista sem deixar de ter um toque romantico.
bom domingo
beijos

Amélia Ribeiro disse...

Olá Maria José!

Parabéns pela escolha do texto!
É excelente e prova da grande sabedoria de Mário Quintana!
Muito bom mesmo!

Um beijo e bom domingo.

b disse...

Mário Quintana não comento não questiono .
Concordo com tudo nesse homem - sim, ainda um homem apesar de longe, muito longe...
Mas comento seu gosto e sensibilidade.

Anônimo disse...

Maria José: Há escritores & poetas e escritores que pensam ser tb poetas e vice-versa. O Mario Quintana esteve sempre na 1ª qualificação. O 'sermão' por ele sugerido, expressa com inteligencia 'impar' e sem esquecer uma vírgula como deve ser vivida uma 'VIDA A DOIS". Isto sim, é um CASAMENTO. a maioria das uniões conjuguais não passam de CANSAMENTO mútuo. De novo,PARABÉNS!(já estou até repetitivo). Abrçs. Roy Lacerda.

Jorge disse...

Maria José, amiga d'alma!

texto maravilhoso. Quintana tinha uma sensibilidade e como sabia escrever!!!

Valeu por mais esta!!!

Beijo, com todo carinho!!!

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Amiga.

Quintana tinha esta sútil
percepção da verdade,
que muito nos faz falta.
Fidelidade é algo que não pode ser prometido,
pois precisa ser vivida
assim como o ar que se respira.
Ser de alguém não é uma promessa,
ser de alguém é uma opção.
Só pode durar enquanto fizer sentido
para nós e para o outro.

Uma linda semana para ti.

João Eudes disse...

Prometer é simples, tanto faz uma ou dez promessas.

Anônimo disse...

Alguém sabe me dizer de onde foi extraído este texto sobre o casamento, de Quintana? Preciso utilizá-lo citando bibliografia. Obrigada.